Inteligência climática para a produção de café

Entenda como as aplicações de inteligência climática no café podem elevar os resultados da lavoura, além de torná-la mais resiliente ao clima

O café é umas das commodities mais importantes no comércio internacional, e o Brasil como um país referência no agronegócio, é o maior produtor e exportador deste produto, além de ser também um dos principais consumidores, de acordo com a FAO e a CONAB.

A produção de café abrange desde pequenos produtores – colaborando para a subsistência de milhares deles – até médios e grandes produtores em todo o mundo. 

Independentemente do tamanho da lavoura, todos os produtores enfrentam desafios em comum para a produção do café que bebemos todos os dias. 

Lavoura de café arábica localizada na região do Sul do estado de Minas Gerais. Crédito: Autora.

Dentre tantos desafios estão: 

  • a redução da mão de obra;
  • a flutuação de preços de insumos ou até mesmo escassez;
  • pragas e doenças;
  • e também as mudanças climáticas que, diariamente, trazem empecilhos na produção do nosso estimado café.

Lavoura de café arábica localizada na região do Sul do estado de Minas Gerais após ocorrência de geada em Julho/2021. Crédito: Autora.

O impacto das mudanças climáticas na produção de café

De acordo com o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), até 2050 ocorrerá o aquecimento global de 1,2 a 3,0°C. 

Ou seja, as mudanças climáticas já são uma realidade que afeta direta e indiretamente a produção de café.

No Brasil, ano passado, os produtores de café enfrentaram seca prolongada e também geadas. Como se não bastasse as condições climáticas adversas enfrentadas e suas consequências nas safras posteriores, a Procafé afirma que a seca em 2022 já está sendo pior que a enfrentada no ano passado.

Apesar de 2022 ser um ano de bienalidade positiva na cultura, as expectativas são pessimistas entre os cafeicultores de Minas Gerais. Crédito: Emater/MG.

A inteligência climática no café

A inteligência climática ou Climate-smart Agriculture (CSA) é uma abordagem integrada para a gestão de terras agrícolas, pecuária, florestas e atividades de pesca que leva em conta dois grandes desafios: a segurança alimentar e as mudanças climáticas. 

O café é particularmente vulnerável às mudanças climáticas porque, como muitas culturas, é altamente dependente de variações consistentes de temperatura e disponibilidade de água, que normalmente são o que as mudanças climáticas mais afetam. 

Choques e estresses climáticos podem afetar apenas comunidades ou fornecedores específicos, ou podem ser covariáveis, afetando simultaneamente grandes áreas da cadeia de suprimentos. 

Por exemplo, na última década, a ferrugem do cafeeiro (Hemileia vastatrix) afetou agricultores em toda a América Latina, contribuindo para significativas perdas econômicas e de produtividade. 

Esses tipos de impactos relacionados ao clima, provavelmente, aumentarão no futuro e se espalharão para novas áreas de abastecimento, trazendo mais desafios para a produtividade e qualidade do café.

Folha de café arábica com lesões de ferrugem (Hemileia vastatrix) localizada na região do Sul do estado de Minas Gerais. Crédito: Autora.

Diante de vários de obstáculos que o produtor rural enfrenta diariamente, como poderíamos utilizar informações geradas pela inteligência climática (CSA) por exemplo, para auxiliar no manejo da lavoura?

E isso, não somente visando a produtividade mas também uma produção de forma mais sustentável e resiliente?

Vamos ver abaixo algumas formas de usar essa inteligência a favor do produtor.

1. Irrigação

O manejo de café irrigado vem crescendo nos últimos anos, se tornando cada vez mais consolidado e, atualmente, correspondendo a 20% de toda a cafeicultura nacional. 

É possível tornar essa irrigação ainda mais eficiente com o auxílio da inteligência climática. 

Isso porque, através de um manejo de irrigação, por exemplo, – que é uma ferramenta de inteligência climática – , é possível saber a hora certa e quantidade de água demandada pela lavoura, o que pode otimizar não somente a mão de obra, mas também evitar o desperdício de água. 

Além disso, a irrigação mais eficiente também colabora para o aumento da produtividade das lavouras(6).

Manejo de irrigação em cafeeiro. Crédito: Revista Rural.

2. Planejamento na aplicação de defensivos

Quantas vezes o produtor se programa para fazer aplicação de herbicida e acaba chovendo no dia? Ou logo após a aplicação? 

Ou então utilizando algum herbicida pré-emergente em uma semana que não há previsão de chuva alguma? 

Como otimizar ao máximo o uso dos defensivos utilizados? 

Um grande aliado na hora de pensar no planejamento para a aplicação de defensivos é a previsão do tempo, principalmente a geolocalizada, específica para a sua fazenda. 

A partir dela, o produtor consegue ajustar o seu calendário da melhor forma possível e de acordo com a necessidade da sua lavoura.

Na prática, isso significa mais eficiência na aplicação, melhores resultados e menos gastos.

3. Monitoramento das chuvas

A seca tem sido uma realidade em muitas lavouras. 

Pensando nisso e tendo consciência de sua ocorrência, o produtor pode se preparar para lidar com suas consequências na lavoura.


E isso vale não somente para aqueles que utilizam manejo irrigado, mas também com adubação e correção do solo, proporcionando para a sua lavoura outros mecanismos para ajudar na recuperação em uma possível época de estiagem.

4. Controle de pragas e doenças

Dois grandes inimigos da produção agrícola são as pragas e doenças. 

Como podemos dar uma vantagem estratégica para a proteção dos cafeeiros? Com inteligência climática!

Usando a previsão do tempo como aliada na hora de monitorar alguma praga ou doença dá ao produtor vantagem no “timing” de uso de inseticidas e fungicidas para melhor hora de colocá- los em campo. 

Por exemplo, o bicho mineiro – uma praga comum nas lavouras – tem a sua propagação favorecida por temperaturas altas e longos períodos de seca.

Assim, sabendo disso junto com o monitoramento climático, podemos prevenir uma possível epidemia utilizando uma aplicação de inseticida na hora certa.

Lesão e casulo do bicho mineiro (Leucoptera coffeella) em folha de café arábica localizada na região do Sul do estado de Minas Gerais. Crédito: Autora.

5. Mais sustentabilidade para a lavoura

De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), a agricultura precisa ter inteligência climática

Isso porque, com as mudanças climáticas, pode haver a redução da produtividade e da estabilidade agrícola, o que pode acarretar em insegurança alimentar. 

Assim, o uso da inteligência climática gera uma melhoria na gestão agrícola e no uso de recursos naturais, como a água.

Ou seja, por meio de inteligência climática, é possível ter uma cafeicultura mais produtiva, sustentável e resiliente ao clima.

Na prática: inteligência climática no café

A Agrosmart acredita que, por meio de tecnologia, é possível tornar a cafeicultura mais produtiva, sustentável e resiliente ao clima. 

A nossa plataforma de inteligência climática já colabora para a melhor tomada de decisão de diversos cafeicultores, como é o caso do sr. Luis Queiroz, da Fazenda Chapadão em Linhares (ES).

“A plataforma hoje já influencia muito nossas tomadas de decisão todos os dias. Até porque começo pelas irrigações para saber se vou aumentar de alguma área, se vou diminuir ou se não vou irrigar naquele dia. A plataforma me dá essa informação.“

Luis Queiroz, Fazenda Chapadão em Linhares (ES)

“Eu olho também a previsão do tempo, umidade do ar, velocidade do vento, isso também nos ajuda nas tomadas de decisão nas pulverizações. Porque, de repente, fico com uma máquina querendo ‘soltar’ uma pulverização. Eu já tomo a decisão de pulverizar ou não, e provavelmente quais os horários ao longo do dia que vou conseguir.”

Luis Queiroz, Fazenda Chapadão em Linhares (ES)

Agrosmart & Nestlé: por uma cafeicultura mais sustentável

Através da plataforma de inteligência climática da Agrosmart, a Nestlé conseguiu gerar resultados muito positivos para um grupo de pequenos produtores em Linhares (ES).

Com as soluções da Agrosmart, os cafeicultores foram capazes de reduzir em até 56% o consumo de água na irrigação do café conilon.

Diariamente, os cafeicultores beneficiados pelo programa recebem via WhatsApp as métricas obtidas através da tecnologia implementada e a recomendação para o período sobre a quantidade adequada e o tempo para acionar e desligar os sistemas de irrigação.

“O uso consciente e correto do recurso na irrigação, associado a práticas de manejo, análises da umidade do solo e orientações para a adequada nutrição, tudo isso traz ganhos para economia de água e energia, mas também maior qualidade para a lavoura, com maior homogeneidade da produção.”

Douglas Peruchi, cafeicultor de Linhares (ES)
Equipe da Agrosmart junto a produtores de café no Espírito Santo

“A gestão da água de forma eficiente é fundamental para criar soluções de negócios de longo prazo e impactar positivamente em práticas agrícolas mais sustentáveis e regenerativas. Ao termos um conjunto de dados em tempo real, conseguimos otimizar o uso de água e incluir tecnologias digitais no dia a dia dos produtores rurais parceiros.”

Rodolfo Clímaco, Gerente de Agricultura na Nestlé Brasil

Conclusão

Diante do cenário de mudanças climáticas, volatilidade do mercado, encarecimento dos custos de produção e incertezas econômicas, a produção de café tem alguns desafios pela frente.

Portanto, a utilização da inteligência climática pode ser uma boa alternativa para a otimização do uso de recursos hídricos, amenizar impactos gerados por uma seca não prevista, adequar o manejo de defensivos, ganhar eficiência na aplicação de fertilizantes e ainda obter o aumento de produtividade das lavouras.

Além de todos esses benefícios, não podemos deixar de lado o fato dessa ferramenta também proporcionar uma produção agrícola mais sustentável e resiliente, reforçando a nossa busca por uma agricultura produtiva e inteligente.