Por: Humberto Davi Zen
Mestre em Extensão Rural pela UFSM
O cultivo de cereais de inverno no Brasil é tradicionalmente mais significativo na Região Sul do Brasil, ainda que também esteja presente em partes das Regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Tomando como referência a segmentação de regiões tritícolas propostas pela Embrapa Trigo, focamos a presente análise sobre as chamadas áreas úmidas, que compreendem os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e parte do sul de São Paulo. Esta opção se deu especialmente devido à influência decisiva que as condições de temperatura e umidade no campo representam para os rendimentos alcançados pelas culturas de inverno.
As culturas de inverno com área e produção mais expressivas são o trigo, aveia e cevada, sendo também estas as espécies que demandam mais cuidados em termos fitossanitários durante o cultivo. Já o triticale e centeio possuem maior restrição geográfica aos estados do Sul, sendo também espécies consideravelmente mais rústicas que os demais cultivos de inverno, onde nuances ambientais não impactam significativamente na sua performance produtiva.
De maneira geral, as culturas de inverno demandam temperaturas mais baixas para um bom desenvolvimento. No início de seus ciclos, durante o estabelecimento do estande de plantas e determinação inicial do potencial de rendimento, que vai até pouco antes do florescimento, temperaturas entre 12 e 20°C são as mais adequadas. À medida em que se avança para as fases de floração e formação dos grãos, uma pequena elevação das temperaturas pode ser benéfica, desde que não ultrapasse os 25°C. Em termos de temperaturas extremas, marcas abaixo de 0°C e acima de 32°C certamente geram algum grau de prejuízo ao desempenho produtivo destas espécies.
Quanto às condições de umidade, sabe-se que as culturas de inverno como trigo e cevada são originárias da região do Egito e ao norte de onde hoje fica o Oriente Médio, ou seja, áreas predominantemente secas. Desta forma, embora a Região Sul do Brasil encontre-se em uma zona favorável em termos de latitude e comprimento do dia, a umidade está no limite máximo do tolerado por estas culturas. A faixa ideal para o desenvolvimento das plantas é entre 70 e 80% de umidade relativa (UR), porém, acima de 75% de UR já há condições para o desenvolvimento de doenças. A ocorrência de moléstias é ainda mais grave com umidades superiores a 80%, especialmente se associada a temperaturas entre 18 e 25°C, que representam condições bastante adequadas ao seu desenvolvimento e reprodução.
Esta avaliação orienta-se pelas recomendações do Calendário de Plantio da Conab e o Zoneamento Agrícola de Risco Climático. Estes apontam que até o final de julho praticamente todas as áreas destinadas à produção de cereais de inverno estariam desde recém semeadas até em fase vegetativa no sul do Brasil. A partir de agosto, os campos já se encaminham para a fase reprodutiva, sendo que caso do Paraná e áreas mais ao norte já se encontrarão também áreas em fase de maturação e de colheita. As imagens expostas a seguir foram todas geradas pela Agrosmart.
Em agosto, há uma elevação generalizada das temperaturas, com as médias indo de 13 a 16°C no RS, SC e metade sul do PR. Neste caso, há uma aproximação dos limiares superiores adequados ao desenvolvimento das plantas, mas isso não deve gerar grandes problemas, a menos que extremos de frio ou calor ocorram inesperadamente. Para as regiões acima do centro do PR, as temperaturas elevam-se ainda mais, com médias aproximando-se dos 20°C. Considerando que neste mês as lavouras encaminham-se para os estádios reprodutivos ou de formação de grãos, as temperaturas nesta faixa são boas, especialmente por indicarem um risco menor de frios extremos e ocorrência de geadas.
Abaixo, temos os mapas com os acumulados previstos para todo o mês de agosto. Considerando que as culturas de inverno têm melhor performance em ambientes com menor umidade no ar e no solo, verifica-se que acima do centro do Paraná haverá condições melhores que nas demais áreas ao sul. No restante da Região Sul, os volumes de chuva não devem ser muito altos, mas suscitam atenção aos efeitos da umidade, considerando que já há boa quantidade de água acumulada no solo. O fato de as lavouras estarem em plena fase vegetativa ou encaminhando-se para a fase reprodutiva, junto à elevação das temperaturas neste mês, o risco de rápido desenvolvimento e disseminação de doenças é de moderado a alto.
Neste caso, deve-se levar em consideração as noções de que as chamadas doenças de chuva requerem um molhamento foliar prolongado associado a tempo encoberto, como no caso da giberela ou fusariose (Gibberella zeae), que demanda cerca de 30 horas, ou manchas foliares em geral, presentes com cerca de 15 horas de molhamento ininterrupto. No caso da giberela, a atenção deve ser redobrada, tanto por seus danos severos sobre a quantidade e qualidade de grãos produzidos em trigo e cevada, como pelo endurecimento no ano de 2019 das legislações sobre os níveis de micotoxinas em grãos. Para as áreas onde o tempo se manter seco por mais tempo, o foco deve estar no desenvolvimento de oídio (Blumeria graminis f. sp. tritici).
Quanto à umidade relativa, valores em torno de 80% ou acima é bastante propícia ao surgimento de doenças foliares, como no caso das chamadas doenças de orvalho. Um exemplo é a ferrugem (Puccinia triticina = P. recondita f. sp. tritici), que surge com molhamento de cerca de 8 horas, especialmente por conta de formação frequente de orvalho ao amanhecer. Em agosto, embora demande atenção, a situação tende a ser mais favorável à manutenção das boas condições fitossanitárias, pois a umidade relativa na Região Sul deve diminuir um pouco.
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Atualmente, o desenvolvimento das culturas de inverno na Região Sul ainda está predominantemente em fase vegetativa ou início da reprodutiva. Com isso, é essencial destacar a importância de manter as boas condições fitossanitárias da lavoura, pois uma vez que uma doença está presente na lavoura, sua eliminação é muito improvável, restando apenas a opção de reduzir os danos causados. No caso do Paraná e sul de São Paulo, a atenção também deve estar voltada às doenças da fase de espigamento e florescimento.
Assim, reforçamos a importância da realização da rotação de culturas, além da escolha de uma cultivar que tenha características alinhadas aos desafios impostos pela região em que será implantada. A qualidade das sementes, bem como um tratamento bem feito em termos da escolha dos defensivos empregados e da cobertura física adequada, tende a garantir um bom estabelecimento inicial da lavoura. O acompanhamento qualificado das lavouras deve ser constante, e no surgimento dos primeiros sintomas, deve-se avaliar as melhores alternativas de manejo fitossanitário junto a um agrônomo ou técnico agrícola. Neste caso, recomenda-se considerar a aplicação de reforços e protetores se a opção for pela aplicação de fungicidas, a fim de garantir resultados mais efetivos.
Como vimos, estar atento ao que se passa no campo e suas implicações no desenvolvimento das culturas é indispensável para a garantia de um manejo adequado e eficiente das lavouras. Isto passa tanto pelo monitoramento das condições ambientais, como pelo controle das medidas já realizadas em cada área. A Agrosmart é especialista nisso, e tem várias alternativas para lhe ajudar a ter eficiência e economia no manejo de seus cultivos.
A nossa plataforma permite o monitoramento das condições do tempo específicas da sua lavoura, além de contar com imagens em NDVI. A plataforma também é preparada para o registro e visualização do manejo realizado em cada área, facilitando o acompanhamento e tomadas de decisão visando economia e eficiência no uso de recursos.
Além disso, a Agrosmart possibilita o acompanhamento das condições de molhamento foliar de sua lavoura. Isso é viável através é da instalação de estação meteorológica em sua propriedade, que poderá contar com sensores compondo um módulo dedicado à verificação de temperatura, umidade relativa e molhamento. Outros fatores que poderão ser registrados são os volumes de chuva, ventos, umidade dos solos em suas lavouras, entre outros.
Humberto Zen é Graduado em Agronomia e Mestre em Extensão Rural pela Universidade Federal de Santa Maria, possui expertise no enfoque interdisciplinar sobre as Cadeias Produtivas do Agronegócio. Sua atuação profissional e estudos envolvem os fluxos e interesses que envolvem os segmentos da produção, mercado e consumo agroalimentares.
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