Como adotar práticas para uma agricultura de baixa emissão de carbono
Entenda a importância da agricultura de baixa emissão de carbono, e conheça algumas práticas e saiba como obter financiamento para implementá-la.
Com a crescente preocupação a respeito das mudanças climáticas, ações públicas e privadas vêm sendo discutidas e implementadas com o objetivo de mitigação, adaptação e resiliência a este cenário.
No setor agrícola, pecuário e florestal, que lidam diretamente com o meio ambiente, a adoção de sistemas, manejos e tecnologias para uma produção mais sustentável tem sido um grande foco.
Mas, o que é que um produtor agrícola, por exemplo, pode fazer para que sua produção caminhe em direção a uma agricultura de baixo carbono? E o auxílio financeiro para isso, de onde é que vem?
Venha conferir a resposta para essas e outras questões neste texto!
A Importância da Agricultura de Baixa Emissão de Carbono
A produção agrícola de modo geral, nos últimos tempos, além de visar a produtividade, também tem se importado cada vez mais com um crescimento sustentável.
Como a agricultura atua diretamente no meio ambiente e está sujeita ao clima e ao solo, é preciso estar sempre adotando sistemas de produção e operações cada vez melhores e capazes de gerar bons resultados não apenas no curto prazo, mas também no médio e longo prazo.
Neste contexto, a agricultura de baixo carbono é fundamental.
Se você ainda não leu nosso texto sobre este tema, aqui no blog da Agrosmart, e quiser saber mais sobre o porquê de uma agricultura de baixa emissão de carbono, clique aqui: O que é agricultura de baixo carbono?
Produzir de modo sustentável não significa produzir menos, pelo contrário, adotando as práticas conservacionistas da agricultura de baixa emissão de carbono, é possível trazer vários benefícios à lavoura, como por exemplo:
- Redução da erosão do solo;
- Aumento da população de microrganismos benéficos no solo;
- Aumento da matéria orgânica do solo;
- No caso da pecuária, é possível ter maior eficiência na criação de bovinos;
- Melhor aproveitamento das culturas forrageiras;
- E até mesmo redução de custos com irrigação.
Assim, é possível obter estes e muitos outros benefícios ao longo dos anos.
Como adotar, na prática, medidas para uma Agricultura de Baixo Carbono?
Muitos acreditam que adotar uma agricultura mais sustentável é difícil, que é preciso mudar totalmente a produção e, principalmente, que isso pode afetar de forma negativa a produtividade da sua lavoura.
No entanto, algumas das práticas recomendadas para a agricultura de baixa emissão de carbono já são adotadas em muitas áreas.
Então, veja, a seguir, 4 medidas que podem ser usadas na agricultura e que podem ajudar a reduzir as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEEs).
Sistema de Plantio Direto
O sistema de plantio direto visa revolver o solo somente na linha de semeadura, manter a palhada e realizar rotação de culturas.
Isto traz para o solo alguns benefícios como:
- A redução do risco de erosão;
- A manutenção da sua umidade;
- Favorece a sobrevivência de microrganismos benéficos;
- Aumenta o teor de matéria orgânica;
- Colabora para um maior controle de plantas daninhas etc.
O uso do sistema de plantio direto, além de trazer vários benefícios ao solo e à lavoura, também colabora para uma agricultura de baixa emissão de carbono.
Isso porque, no sistema de plantio direto ocorre a redução das operações de aração e gradagens.
Normalmente, em sistemas convencionais, o uso excessivo dessas operações leva à desestruturação do solo, por meio do rompimento de seus agregados. Assim, o carbono presente nestes agregados passa a ser disponibilizado para microrganismos que vão consumi-lo librando CO2.
Além disso, a presença de palhada reduz o impacto das chuvas sobre o solo – pois, ele não fica exposto – e mantém a sua umidade.
Outro fator importante é a presença da matéria orgânica, pois ela favorece a reciclagem de nutrientes, aumentando a eficiência do uso de fertilizantes e corretivos no solo.
Fixação Biológica do Nitrogênio
Uma prática comum no cultivo da soja, a fixação biológica de nitrogênio (FBN) também já vem trazendo resultados satisfatórios para as lavouras de feijão e milho.
A fixação acontece da seguinte maneira: as bactérias associadas às raízes das plantas captam o nitrogênio atmosférico (N2) e o transformam em uma forma de nitrogênio (NH3, amônia) que pode ser utilizado pelas plantas.
Isso gera redução nos custos com fertilizantes, pois reduz ou até elimina, em algumas ocasiões, o uso de adubos nitrogenados.
Assim, a FBN faz parte da agricultura de baixa emissão de carbono devido a redução dos GEEs relacionados à fabricação, transporte e uso destes fertilizantes.
Além disso, no uso da adubação nitrogenada pode ocorrer a perda de óxido nitroso (N2O) – um dos gases do efeito estufa com poder de aquecimento atmosférico quase 300 vezes maior que o do gás carbônico (CO2) – para a atmosfera.
De acordo com a Embrapa, estima-se que o uso de 1 kg de fertilizante nitrogenado emite o equivalente a 10 kg de CO2.
Recuperação de pastagens degradadas
A pastagem degradada é aquela que não apresenta cobertura vegetal e pouca ou nenhuma matéria orgânica.
Em situações mais avançadas de degradação o solo fica praticamente exposto.
Com a falta de proteção do solo, seja com cobertura vegetal viva ou morta, ocorre aumento da emissão de CO2 para a atmosfera.
Além disso, há também redução da quantidade de animais por hectare – pois, com a degradação das pastagens, há uma menor a quantidade de matéria verde para a alimentação animal. Assim, para que ocorra ganho de peso, ocorre a redução da quantidade de animais por área.
Com a recuperação destas áreas – a partir do uso de forrageiras adequadas para tipo de produção, adubação correta e manejo adequado – o solo começa a sequestrar carbono.
Assim, ocorre também uma melhora das condições dos pastos, o que favorece a biomassa vegetal e, por consequência, pode aumentar a lotação de animais na área.
Estima-se que em pastos degradados a capacidade é de 0,4 unidade de animais (UA) por hectare. Já em pastos com bom manejo e cuidados, a capacidade sobre para 1 UA ou mais por hectare.
Outro ponto importante na recuperação das pastagens é o aumento da capacidade de ganho de peso do animal na área.
Com isso, pode haver uma redução do período de ganho de peso ideal para o abate dos animais, o que reduz a emissão de metano por parte deles.
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)
Integrar dois ou mais tipos de produção em uma mesma área é uma das atividades que vem crescendo no país.
A integração pode ser de vários tipos, como: Integração Lavoura-Pecuária (ILP), Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), Integração Pecuária-Floresta (IPF) e Integração Lavoura-Floresta (ILF).
Estas associações podem ocorrer em sucessão, conjunto ou rotação, havendo diversificação das atividades, maior aproveitamento da área e, principalmente, elevando o teor de matéria orgânica do solo.
A combinação destas atividades faz com que áreas degradadas sejam recuperadas, ocorrendo manutenção e reconstituição da cobertura florestal em diversas regiões.
Como a área sempre terá uma cobertura vegetal, seja pelos restos de folhas das árvores ou restos de culturas, ocorre uma grande fixação de carbono.
Financiamento para adesão da agricultura mais sustentável
Parte destas medidas já são realizadas por alguns produtores e, para buscar agregar mais áreas, o governo criou o Plano ABC (Plano de Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária) e, em 2021, o atualizou para o Plano ABC+.
O Plano ABC, que teve início em 2010, traçou metas para a década de 2010 a 2020 e definiu ações para que o setor agropecuário brasileiro caminhasse em direção a uma produção mais sustentável.
Na sequência, em 2021, houve o lançamento do Plano ABC+.
Este plano visa incrementar as metas e tecnologias do Plano ABC para mitigação das emissões de gases do efeito estufa no período de 2020 a 2030.
Ações, como as citadas anteriormente, fazem parte deste plano que, para incentivar os produtores a adotá-las, oferece linhas de crédito especiais.
O financiamento é destinado a projetos que adotem práticas que visem a redução da emissão dos GEE, ou seja, uma agricultura de baixa emissão de carbono
Além disso, há também a linha de crédito ABC Ambiental, pela qual produtores podem buscar financiamento para adequarem suas propriedades ao Código Florestal.
Esta linha de financiamento é para projetos de:
- Recuperação da reserva legal e áreas de de preservação permanente;
- Recuperação das áreas degradadas;
- E implantação e melhoramento de planos de manejo florestal sustentáveis.
Além dos projetos do ABC Ambiental, há outras linhas de crédito, como de todas as ações citadas anteriormente, além de incentivo à produção orgânica e de implementação e manutenção de geração de energia renovável, para consumo próprio.
Ademais, a taxas destes financiamentos são reduzidas para que assim, os produtores busquem adotar técnicas e sistemas de produção mais sustentáveis.
Conclusão
Em resumo, aderir à práticas voltadas à agricultura de baixa emissão de carbono pode ser algo gradual, a partir da melhoria contínua dos sistemas de produção.
Mas, o primeiro passo é fundamental, seja por meio do Plantio Direto ou outra ação. Isso porque, com as mudanças climáticas em curso, é preciso que a agricultura busque cada vez colaborar para a redução de emissões dos gases do efeito estufa, e aí reside o grande papel da agricultura de baixa emissão de carbono.
Além disso, diante das alterações do clima, mais do que nunca é fundamental traçar estratégias de curto, médio e longo prazo quando falamos em agricultura.
Por isso, o governo federal criou o Plano ABC e o Plano ABC+, visando disponibilizar financiamento para que os produtores possam adotar melhores práticas em suas lavouras com o fim não apenas de mitigação, mas resiliência e adaptação do agro frente às alterações climáticas.