Enfrentando os impactos das mudanças climáticas na agricultura

Entenda como o agro pode buscar se preparar frente ao cenário de mudanças climáticas e os seus impactos na agricultura.

A agricultura é uma atividade com alta dependência de fatores climáticos, como temperatura, regime de chuvas, umidade do solo e radiação solar.

Dessa forma, restrições em qualquer um destes fatores, podem provocar reduções na produtividade dos cultivos.

No entanto, quebras de safras agrícolas e mudanças nos padrões de ocorrência das chuvas vêm ocorrendo ano a ano, provocando prejuízos aos produtores rurais e à população urbana, visto que isso também afeta o preço dos alimentos.

Isso porque, o planeta vem observando mudanças significativas em variáveis climáticas, principalmente relacionadas a temperatura e regime hídrico. 

A ação humana tem acentuado muitas destas alterações, principalmente devido às emissões de gases do efeito estufa, tanto pela queima de combustíveis fósseis, bem como pela indústria, as queimadas e o desmatamento ilegal.

Assim, é extremamente importante saber a respeito das ações que podem ser tomadas para reduzir esses impactos, dentro e fora das propriedades agrícolas.

Então, veja a seguir o que são as mudanças climáticas, quais os seus impactos na agricultura e que medidas o agro pode tomar para enfrentar esses desafios.

Entendendo as mudanças climáticas: causas e consequências

Estimativas apontam que, até 2050, a produção brasileira de grãos, aumentará em 70%, sem grandes incrementos de novas áreas. 

Porém, para que isto de fato se concretize, produtores e profissionais do agro terão papel fundamental neste processo, principalmente em relação a cultivos e práticas sustentáveis.

Estas práticas incluem, por exemplo, o uso eficiente da água e práticas de conservação e manejo dos solos.

Somado a isso ainda há o desafio das mudanças climáticas. Por isso, metas para redução da emissão de gases de efeito estufa, bem como o Plano ABC+, estão sendo discutidas e implementadas, a fim de tornar a agricultura viável neste cenário.

Afinal, o que são as mudanças climáticas?

As mudanças climáticas são modificações significativas no clima que persistem por um período extenso.

Essas modificações podem ocorrer por origem natural, ou desencadeados por ações antrópicas (ações humanas), ou ambos. De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), os processos antrópicos têm um peso significativo no cenário atual de mudanças climáticas.

E dentre as interferências humanas agravantes, estão: o desmatamento; os desvios de cursos de água; a utilização inadequada de água; os modelos de urbanização e industrialização; e as emissões de gases de efeito estufa.

Dessa forma, as mudanças climáticas afetam fatores indispensáveis para a produção agrícola, como: 

  • Temperaturas máximas, mínimas e médias; 
  • Distribuição das chuvas;
  • Ciclo das culturas;
  • Dinâmica da vegetação natural.

Outros impactos são referentes à segurança alimentar, ou seja, a disponibilidade suficiente de alimentos de qualidade para consumo.

o impacto socioeconômico das mudanças climáticas
(Fonte: iberdrola, 2021)

Assim, a capacidade dos sistemas de serem resilientes, se adaptarem e a sua vulnerabilidade, associados às ações de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas serão decisórios para o futuro das produções agrícolas.

A seguir, entenda o que significa resiliência, vulnerabilidade, adaptação e mitigação, relacionados às mudanças climáticas nos sistemas agrícolas.

1. Vulnerabilidade climática

É o grau de suscetibilidade ou incapacidade de um sistema de suportar os efeitos das mudanças climáticas, incluindo a variabilidade climática de temperaturas, precipitações e eventos extremos.

2. Resiliência climática

É a capacidade de uma comunidade, sociedade ou ecossistema de sobreviver, resistir e recuperar-se dos danos causados pelas mudanças climáticas. Grosso modo, a resiliência é a capacidade de resistir, de se reconstruir.

3. Adaptação climática

Adaptação é o conjunto de ações que permitem que os sistemas naturais ou criados pelo homem se adaptem a um novo ambiente, em resposta às mudanças do clima atual, principalmente relacionados à temperatura e disponibilidade hídrica.

4. Mitigação das mudanças climáticas

A mitigação consiste em reduzir os danos causados através da diminuição das emissões por fontes de gases de efeito estufa. E isso pode ser feito, por exemplo, fortalecendo os sistemas que os absorvem, como as florestas.

Na agricultura, dentre as estratégias adotadas para mitigar os impactos causados pelas mudanças climáticas está a agricultura de baixa emissão de carbono.

Isso porque, esta estratégia tem como objetivo adotar e desenvolver processos e tecnologias que permitam reduzir a emissão de gases de efeito estufa para a atmosfera. 

Estes gases estão associados ao aquecimento da superfície terrestre, afetando diretamente a agricultura e também as populações urbanas, biomas, cursos de água, geleiras e a biodiversidade do planeta.

Estas atividades incluem, por exemplo:

  • Sistemas integrados de pecuária-floresta, pecuária-lavoura-floresta ou lavoura-floresta;
  • Mínimo revolvimento do solo;
  • Preservação de matas nativas e recuperação de áreas degradadas;
  • Recuperação da vegetação próxima a encostas, rios, lagos e cursos de água;
  • Utilização de adubos verdes;
  • Uso de práticas de conservação dos solos e da água;
  • Adoção do sistema plantio direto.

Quais são os impactos das mudanças climáticas na agricultura brasileira?

As mudanças climáticas já são responsáveis por um terço das oscilações da produtividade agrícola em todo mundo.

Se medidas que visem a mitigação, adaptação e resiliência dos cultivos não forem tomadas, as safras agrícolas podem ser marcadas por oscilações ainda mais drásticas.

Ou seja, em um ano as safras poderão ocorrer normalmente e no outro não, causando oscilações também nos preços dos alimentos.

Além disso, pode haver impactos na disponibilidade e concorrência da água entre a agricultura e o abastecimento de grandes centros urbanos e hidrelétricas.

Ademais, outras consequências das mudanças climáticas na agricultura incluem:

  • Maior dificuldade no manejo de problemas fitossanitários, como pragas e doenças nos cultivos;
  • Distribuição restrita das espécies e condições benéficas para espécies invasoras, com consequente redução da produtividade das culturas;
  • Redução de empregos e êxodo rural.

Como o setor pode se preparar para lidar com os impactos das mudanças climáticas na agricultura?

A agricultura tem papel importante na redução das emissões de gases de efeito estufa através de práticas como a agricultura de baixa emissão de carbono, utilizando práticas agrícolas e tecnologias adequadas.

(Fonte: FEE- Fundação de Economia e Estatística, 2015)

Além disso, medidas para aumentar a resiliência dos cultivos podem ser tomadas antes da porteira, dentro e depois da porteira.

Então, vejamos exemplos de cada um deles a seguir!

Antes da porteira

Antes da porteira, ou seja, antes da produção em si, é preciso haver o desenvolvimento de novas tecnologias pela indústria e políticas públicas que fomentem práticas conservacionistas relacionadas, principalmente, ao uso eficiente da água.

Alguns exemplos da atuação antes da porteira incluem:

  • O desenvolvimento de sistemas suportes para a tomada de decisão, principalmente que forneçam dados de estimativas de eventos meteorológicos;
  • O desenvolvimento e aprimoramento dos equipamentos e sensores para uma tomada de decisão mais inteligente;
  • Recuperação e conservação de bacias hidrográficas e, com isso, conservação de mananciais e, por consequência, manutenção da disponibilidade e fornecimento de água;
  • Uso eficiente da água pela indústria de insumos;
  • Uso de transportes com menor emissão de gases poluentes (por exemplo, ferrovias e hidrovias) no escoamento de produtos agrícolas e insumos;
  • Melhoria dos processos produtivos nas indústrias de insumos (fertilizantes, defensivos, sementes etc);
  • Investimentos em pesquisas por instituições públicas e privadas que visem o melhoramento genético das culturas, a fim de desenvolver cultivares com tolerância ou resiliência, principalmente ao déficit hídrico prolongado;
  • Seleção de microrganismos, como bactérias, que auxiliem os cultivos agrícolas na tolerância à seca, em diversas culturas.

Dentro da porteira

Dentro da porteira, ou seja, no que se refere à produção agropecuária em si, algumas práticas incluem:

  • A adoção do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), que indica os locais e épocas mais favoráveis para a implantação de uma cultura e suas cultivares;
  • Integração lavoura-pecuária-floresta;
  • Adoção do sistema de Plantio Direto;
  • Uso adequado de microrganismos que auxiliam na fixação biológica de nitrogênio e, com isso, redução no uso de fertilizantes nitrogenados;
  • Tratamento de dejetos animais;
  • Manejo eficiente das áreas irrigadas para o melhor aproveitamento da água;
  • Manutenção e recomposição das APPs (Áreas de Preservação Permanente).
  • Práticas conservacionistas do solo: manejos que visam conservar e recuperar os solos, principalmente, no que diz respeito à capacidade de infiltração e armazenamento de água. Assim, estes solos podem fornecer melhores condições para as plantas suportarem períodos mais prolongados de estresses, principalmente hídricos.

Depois da porteira

A produção de alimentos consome tanto recursos renováveis, quanto os não renováveis. Por isso, reduzir o desperdício desta produção é essencial.

No entanto, para a produção mundial de grãos, por exemplo, as perdas em pós-colheita chegam a 30%.

Dessa forma, ações que visem menores perdas na pós-colheita, armazenagem e comercialização são exemplos de medidas a se adotar depois da porteira.

Para isso, é preciso agir em duas frentes:

  • Manejo e colheita inadequados: relacionado a este fator, está a falta de assistência técnica de qualidade e também de estruturas adequadas para conservação e armazenamento dos produtos de origem vegetal, para que perdas sejam evitadas;
  • Distribuição e transporte: neste fator, tecnologias como o melhoramento genético podem colaborar para que os produtos de origem vegetal tenham qualidade nutricional e maior tempo de prateleira (shelflife), ou seja, maior durabilidade. Além disso, é preciso também minimizar as perdas durante o trajeto entre o local de produção e o local de venda ou armazenamento.

Conclusão

Por fim, é nítido que o agronegócio tem papel fundamental no futuro da produção de alimentos e que o conhecimento sobre as mudanças climáticas por parte dos agricultores e todos os profissionais envolvidos no setor é essencial. 

Além disso, devem ser adotadas o quanto antes práticas mais sustentáveis, estratégias de médio e longo prazo, e manejos que permitam a resiliência ou adaptação climática e, em paralelo, a mitigação de seus impactos.

Isso porque, essas alterações no clima já estão afetando a produção agrícola em todo o mundo, interferindo no regime de chuvas e nas condições de temperatura e umidade.

Assim, para que possamos avançar como um dos principais países produtores de alimentos, teremos que adequar a agricultura brasileira e encarar as mudanças climáticas como um desafio presente.


Leia mais sobre mudanças climáticas:

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