O que é o Fiagro e como ele pode impactar o agronegócio?

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Os investimentos no agronegócio, com a criação do Fiagro, podem ser feitos por qualquer pessoa por meio de um fundo próprio para as cadeias produtivas do setor 

O agronegócio brasileiro conta, desde março de 2021, com o Fiagro (Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas Agroindustriais).

Desde então, pessoas físicas ou jurídicas podem realizar aplicações financeiras em ativos do agronegócio negociados na bolsa de valores, a B3.

O Fiagro tende a ser uma importante fonte de recursos para o agronegócio nos próximos anos, mas isso também vai depender de alguns fatores.

Dentre eles, a aplicação de práticas baseadas na agenda ESG dentro da porteira, bem como ao longo da cadeia de valor do agronegócio – necessárias para reduzir e gerenciar riscos, e dar mais segurança aos investidores.

Leia mais neste artigo!

Como surgiu o Fiagro?

O agronegócio tem uma grande participação na economia brasileira. Em 2021, por exemplo, ele representou 27,4% do PIB.

Neste contexto, o Fiagro surge como uma necessidade do agronegócio de atrair mais investimentos para a sua expansão.

Isso porque, há uma crescente demanda por alimentos. De acordo com a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil terá de aumentar a oferta de alimentos em 41% nos próximos anos.

Para isso, são necessários investimentos para expansão tanto da produção agrícola no campo quanto da infraestrutura para a cadeia do agronegócio.

Com o Fiagro, esses investimentos tornam-se mais viáveis, já que os valores investidos poderão ser convertidos em maior capacidade produtiva do setor.

Em sua criação o Fiagro seguiu uma regulamentação similar a de Fundos de Imobiliários, mas com adaptações para torná-lo mais atrativo.

Veja mais detalhes abaixo.

O que é o Fiagro?

O Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) é um tipo de fundo de investimento que permite que qualquer pessoa (física ou jurídica) possa investir no agronegócio por meio da compra de cotas do fundo, que, por sua vez, investe em ativos do agro.

Ele foi criado pela Lei nº 14.130, de 29 de março de 2021, com o objetivo de atrair investidores e captar recursos para aplicar no agronegócio. Então, em agosto de 2021, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) autorizou as negociações com o Fiagro.

Assim, os recursos captados pelos Fiagros podem ser usados para investimentos em imóveis rurais e/ou atividades da produção do setor agroindustrial.

Mas, como é que funciona um fundo de investimentos?

Bom, de forma simples, eles funcionam como um condomínio: reúnem recursos daqueles que participam (através da compra de cotas) e aplicam em conjunto no mercado financeiro ou de capitais.

Além disso, há um gestor(a) ou instituição responsável pela administração do fundo, que decide onde, quanto e quando investir.

Assim, ao adquirir uma cota em um fundo, a expectativa do investidor é de que esse fundo se valorize e aumente o seu patrimônio.

Onde o Fiagro pode investir?

As aplicações do Fiagro podem ser feitas em:

  1. imóveis rurais (ex.: compra de fazendas);
  2. participação em sociedades ligadas a cadeia produtiva agroindustrial;
  3. ativos financeiros, títulos de crédito ou valores mobiliários emitidos por pessoas físicas e jurídicas vinculadas à cadeia produtiva agroindustrial;
  4. direitos creditórios do agronegócio e títulos de securitização emitidos com lastro em direitos creditórios do agronegócio;
  5. direitos creditórios imobiliários relativos a imóveis rurais e títulos de securitização emitidos com lastro nesses direitos creditórios;
  6. cotas de fundos de investimento que apliquem mais de 50% do seu patrimônio nos ativos referidos nos itens 1 ao 5 relatados acima.

Os ativos financeiros, títulos de crédito e valores imobiliários constantes no item 3 estão abaixo, junto às suas leis referentes:

  • Cédula de Produtor Rural (CPR) – nº 8.929, de 22 de agosto de 1994;
  • Certificado de Depósito Agropecuário (CDA), Warrant Agropecuário (WA), Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) – nº 11.076, de 30 de dezembro de 2004;
  • Fundo Garantidor Solidário (FGS), Cédula Imobiliária Rural (CIR) – nº 13.986, de 7 de abril de 2020.

Sobre os itens 4 e 5, incluem-se, ainda, certificados de recebíveis do agro (CRA), cotas de fundos de investimento em direitos creditórios e de fundos de investimento em direitos creditórios não padronizados que apliquem mais de 50% do patrimônio nos direitos creditórios.

Enfim, os Fiagros tem uma gama de possibilidades: desde realizar a compra de propriedades rurais, até serem acionistas de empresas presentes no agronegócio ou investir em outros fundos do setor.

Ou seja, o Fiagro traz um grande potencial de ampliação na captação de recursos para o agronegócio.

Como funciona o Fiagro (Fonte: Direito Rural)

Quais são os Fiagro?

A Lei nº 14.130/2021 permite que sejam criadas categorias do Fiagro, com requisitos de funcionamento específicos, de acordo com:

  • o público que poderá subscrever as cotas de suas emissões;
  • e a natureza dos investimentos a serem realizados pelos fundos.

Na B3, o Fiagro é dividido nas seguintes categorias:

  • Fiagro-FIDC (Direitos Creditórios): fundos voltados para a agroindústria que apliquem em direitos creditórios, conforme a Instrução CVM 356;
  • Fiagro-FII (Imobiliários): fundos com ativos imobiliários (focado em investir em terras agrícolas), conforme a Instrução CVM 472;
  • Fiagro-FIP (Participações): fundos de investimentos em participações em sociedade, ou seja, pequenos investidores podem adquirir participação em uma empresa agrícola; segue a Instrução CVM 472.

Vantagens do Fiagro para investimentos no agronegócio

Para quem investe, algumas das principais vantagens dos Fiagros são:

  • O aumento na diversificação de investimentos no agronegócio: agora, além da compra de ações na bolsa de valores, e a aquisição de títulos como CRA e LCA, há também a disponibilidade de fundos;
  • Menor barreira de acesso, ou seja, facilidade em investir no agro: por meio dos Fiagros é possível investir no agronegócio como se investem nos fundos imobiliários;
  • E a possibilidade de iniciar seus investimentos a valores mais baixos, acessíveis a investidores de pequeno porte.

Já, para o agronegócio, a principal vantagem do Fiagro é:

  • A expansão no volume de recursos captados e diversificação dessas fontes: o que além de colaborar para o fluxo de caixa das empresas inseridas no agro, também pode facilitar o acesso a recursos para investimentos em tecnologia e inovação.

Como o Fiagro impacta quem recebe e quem investe?

O Fiagro promete gerar impactos muito positivos no agronegócio.

Os investimentos em FIDC (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), por exemplo, possuem foco na agroindústria.

Assim, empresas agrícolas poderão ter um maior fluxo de caixa, o que é importante para fazer novos investimentos em infraestrutura, tecnologia e inovação a condições mais atraentes.

Isso porque, ter bom fluxo de caixa na agroindústria nem sempre é possível por conta da sazonalidade de algumas culturas, o que gera baixo fluxo de capital em épocas sem produção.

O Fiagro FII, por sua vez, visa investimentos em terras agrícolas, com valorização do investimento e rentabilização por meio das distribuições.

Uma das vantagens dessa categoria de Fiagro é que ele democratiza as oportunidades de investimento, por ser mais acessível a pequenos investidores.

Já com o FIP, os investimentos podem ser feitos em empresas agrícolas sem necessidade de grande aporte financeiro, por meio da compra de participações nas cotas das empresas.

Assim, o FIP proporciona que até pequenos investidores possam aplicar seu dinheiro em negócios formados e estruturados, ficando somente com a parte de possíveis ganhos e valorização do negócio.

Fiagro e ESG: entenda a relação

Mesmo sendo vantajoso, o Fiagro exige cautela e análise de previsão de riscos – como qualquer fundo de investimentos.

Porém, como o bom desempenho do agronegócio depende muito de fatores edafoclimáticos, também é importante levá-los em conta na hora de realizar a análise de riscos.

Vale lembrar que, nos últimos anos, o setor em todo o mundo tem passado por desafios devido à ocorrência de eventos extremos e/ou atípicos, em parte por conta das mudanças climáticas.

No Brasil, por exemplo, áreas agrícolas que antes não eram afetadas por geadas severas, como o Sul de Minas Gerais, tiveram mais de 200 mil hectares de cafezais afetados.

No Sul e Centro-Oeste do país, lavouras de milho e soja registraram perdas por conta da estiagem prolongada.

Assim, para gestoras de investimentos que possuem Fiagros acompanhar indicadores ambientais, sociais e de governança ao longo da cadeia dos produtos agrícolas é fundamental.

Isso porque, mesmo que os investimentos no Fiagro possam trazer bons rendimentos por conta das commodities agrícolas serem negociadas em dólar na bolsa de valores, as projeções precisam abranger indicadores mais específicos do setor.

Neste ponto, a agenda ESG no agronegócio pode colaborar trazendo mais transparência e facilitando a gestão de riscos (socioambientais, climáticos, reputacionais, de imagem etc).

Por exemplo, no contexto do Fiagro, algumas ações que podem beneficiar todo o setor e ainda dar mais segurança e transparência, são:

  • Preservar o meio ambiente e estar em conformidade com a legislação ambiental;
  • Incentivar a adoção de tecnologias e inovação no campo que gerem eficiência, menor impacto ambiental, regenerem sistemas produtivos, presem pela saúde do solo e qualidade da água;
  • Implementar práticas de Climate-Smart Agriculture (inteligência climática para a agricultura), que colaborem para tornar a produção de alimentos mais produtiva, sustentável e resiliente ao clima;
  • Manter boas práticas de responsabilidade social nas fazendas e/ou na agroindústria;
  • Incentivar boas práticas de governança corporativa com transparência na cadeia de valor e a tomada de decisão através de dados;
  • Entre outros.

Um estudo recente apontou que, até 2050, haverá alterações para pior na produção de café, abacate e castanha de caju, por conta das condições climáticas.

Por isso, não só em relação a essas culturas, mas em outras também, se faz cada vez mais necessário que sejam feitas adaptações para uma produção agrícola mais produtiva, sustentável e resiliente às alterações do clima.

Dessa forma, o setor poderá atrair cada vez mais investidores e se desenvolver a ponto de atender à demanda de aumento de 41% a mais na produção de alimentos. 

E também trazer a estes agentes (de gestoras a investidores) mais segurança e mecanismos para gerir riscos.

Soluções digitais na gestão de riscos do agronegócio

Realizar a gestão de riscos no agronegócio é fundamental tanto para quem está no campo ou na agroindústria, quanto para as gestoras que administram Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas Agroindustriais.

E isso pode ser feito através de mecanismos de monitoramento, reporte e verificação do campo à agroindústria.

Nesse contexto, as soluções digitais têm um papel fundamental de facilitar a coleta desses dados e informações, transformar em indicadores e em inteligência para a tomada de decisão.

Para o monitoramento em campo, há no mercado soluções como: imagens NDVI para monitorar a saúde da lavoura; sensores para o monitoramento das condições meteorológicas e de umidade do solo; modelos preditivos de safra, a partir de condições meteorológicas etc.

Já, para as agroindústrias e seus stakeholders, as ferramentas de MRV (monitoramento, reporte e verificação) que reúnem dados e informações de uma base de fornecedores de produtos agrícolas e as transformam em indicadores ambientais, sociais, operacionais e de governança são fundamentais.

Assim, é possível levar mais transparência de ponta a ponta da cadeia.

Em resumo, a tecnologia tem um papel central neste contexto: escalar essa transparência. Ou seja, é possível, e necessário, aliar sustentabilidade com a transformação digital na produção de alimentos.

Conclusão

A criação Fiagro representa uma boa oportunidade para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro e sua tendência é crescer cada vez mais, tendo em vista que recai sobre o Brasil uma grande responsabilidade mundial na produção de alimentos para os próximos anos.

Mas, esse crescimento não depende somente do investimento de recursos financeiros, e sim das condições climáticas ideais para a produção agrícola e da melhoria das práticas inerentes à atividade.

Tais práticas devem ser mais condizentes com os estudos científicos relativos às mudanças climáticas e aos riscos que elas apontam para a produção mundial de alimentos.

Afinal, de nada valerá investimentos para aumento da capacidade de produção, a partir da venda das cotas do Fiagro, se elas não vierem acompanhadas de ações que ajudem a reduzir e controlar os riscos climáticos, socioambientais etc.

Neste contexto, a adoção de tecnologias pode trazer transparência à cadeia e, com isso, mais segurança aos investidores.

Diante disso, a agenda ESG também deve se mostrar cada vez mais presente, de ponta a ponta nas cadeias agroindustriais, colaborando para gerir riscos e transcionar a produção de alimentos para modelos mais produtivos, sustentáveis e resilientes.

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