Entenda a disponibilidade hídrica e a evapotranspiração no Brasil

A disponibilidade hídrica adequada é um dos fatores fundamentais para o sucesso da produtividade agrícola, pois a falta de água pode resultar em deficiência hídrica e por consequência em distúrbios fisiológicos negativos na plantação.

Por esse motivo, locais com pouca água disponível utilizam a irrigação como alternativa para garantir a disponibilidade de água e elevar a produtividade da safra.

Os principais fatores que afetam a disponibilidade hídrica de uma região são a precipitação e a evapotranspiração.

A precipitação atua como suprimento de água para as plantações e a evapotranspiração atua como perda de água pela plantação.

Regularmente locais com precipitação menor que a evapotranspiração são locais que apresentam déficit hídrico, no entanto, como as chuvas variam ao longo do ano, essa relação de déficit hídrico também varia ao longo do ano.

Por isso é importante entender os regimes de precipitação e evapotranspiração de sua região.

Mas o que significa evapotranspiração?

Pode ser explicada como o processo de transferência de vapor d’água para a atmosfera pela evaporação de solos úmidos e pela transpiração das plantas, no qual a água da superfície terrestre passa para a atmosfera no estado de vapor.

Fonte: University Corporation for Atmospheric Research.

Ao contrário da precipitação a evapotranspiração ocorre todo dia, sua intensidade depende principalmente da demanda atmosférica e da disponibilidade de água no solo.

A demanda atmosférica está diretamente relacionada com o aquecimento do ar. O aumento da temperatura do ar aumenta a quantidade de vapor d’água necessária para saturar o ar, em outras palavras o aumento de temperatura permite que o ar armazene mais vapor d’água em um mesmo volume.

Dessa forma, o aumento de temperatura consequentemente aumenta a demanda evaporativa do ar e implica em maior consumo de água pelas plantas, portanto maior retirada de água do solo pelas raízes das plantas.

Por isso que não recomenda-se irrigar nos horários mais quentes do dia, quando essa demanda evaporativa é alta.

Quando a evapotranspiração em uma superfície ampla e vegetada ocorre sem restrições hídricas tem-se a Evapotranspiração Potencial; que geralmente utiliza a grama como referência.

A partir da dela obtém-se a Evapotranspiração da Cultura (ETC); que é a evapotranspiração específica para cada cultura agrícola.

A ETC varia com a fase de desenvolvimento da planta, pois cada fase necessita de uma quantidade de água.

Qual o regime de precipitação e evapotranspiração da minha região?

A precipitação anual média diária (P) é a precipitação acumulada durante o ano todo dividida pelo número de dias no ano, dessa forma obtemos um valor médio de precipitação para todos os dias do ano e um indicativo do regime de precipitação de uma região.

Nas regiões Norte e Sul do Brasil, devido à regularidade da precipitação e ao alto acumulado de precipitação anual tem-se que a precipitação é maior do que a evapotranspiração.

Nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do país têm-se um padrão diagonal de áreas com maior precipitação do que evapotranspiração, isso está relacionado com os sistemas atmosféricos que regem a precipitação dessas regiões; como a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).

Já quase a região Nordeste inteira apresenta-se com precipitação menor do que evapotranspiração, isso ocorre por causa do baixo volume de precipitação e da alta demanda evaporativa da atmosfera.

Verão

No verão a precipitação tende a ser maior do que nas demais estações do ano em grande parte do Centro-Oeste, Sudeste e sul e noroeste do Nordeste do Brasil; com isso surgem mais áreas de maior precipitação do que evapotranspiração nessas regiões.

Nas demais áreas do Nordeste as elevadas temperaturas e os baixos valores de precipitação favorecem a caracterização de áreas com menor precipitação do que evapotranspiração.

No Norte do Brasil apenas o estado de Roraima apresenta pouca precipitação nessa época e por isso é o único lugar dessa região que apresenta precipitação menor do que evapotranspiração.

No Sul do Brasil apesar da regularidade das chuvas, no verão as altas temperaturas elevam a evapotranspiração da região; favorecendo a região a ter menor precipitação do que evapotranspiração.

Outono

No outono as áreas de maior precipitação do que evapotranspiração nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Norte seguem o padrão anual.

No Nordeste a diminuição da evapotranspiração; especialmente em decorrência da diminuição da temperatura, faz surgir mais áreas onde a precipitação é maior do que a evapotranspiração, principalmente nas regiões litorâneas onde a umidade proveniente do oceano diminui a demanda evaporativa da atmosfera.

No Sul o início da diminuição das temperaturas favorece a região a ter maior precipitação do que evapotranspiração.

Inverno

No inverno as temperaturas diminuem principalmente mais ao sul do País, isso diminui a evapotranspiração em grande parte do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

No entanto, mesmo com diminuição dos mesmos, as áreas de menor precipitação do que evapotranspiração aumentam, pois a precipitação em quase todo o Brasil também diminui.

De forma simples, as áreas de maior precipitação do que evapotranspiração seguem o padrão da precipitação nessa época do ano.

Primavera

Na primavera as temperaturas voltam a aumentar e consequentemente a evapotranspiração. Nessa estação a precipitação volta a aumentar nas áreas sul e oeste do Norte, norte do Centro-Oeste e sul do Sudeste.

Já no litoral leste do Nordeste e nordeste da região Norte do Brasil a precipitação diminui. Nas regiões onde a precipitação aumentou o padrão é de maior precipitação do que evapotranspiração, já nas regiões onde a precipitação diminuiu esse padrão é o oposto.

Na região Sul do país a pouca variação da precipitação contribui para a regularidade das áreas com maior precipitação do que evapotranspiração.

Precipitação anual

Esse padrão pode mudar?

Esse padrão de áreas com maior e menor precipitação do que evapotranspiração ao longo do ano mostra um comportamento médio, isto é, na maioria dos anos o regime de precipitação e de evapotranspiração ao longo das estações do ano se comporta dessa forma.

Porém não são todos os anos que esse padrão age dessa forma, alguns anos anômalos como anos de El Niño e La Niña tem um padrão diferente de precipitação, como visto no post “El Niño e La Niña: entenda os fenômenos e impactos no Brasil“.

Também as possíveis mudanças climáticas indicam alterações no regime de precipitação em algumas regiões e o aumento de temperatura em todo o país.

Por esses motivos é muito importante monitorar as condições atmosféricas em sua região de plantio, pois elas contribuem diretamente para o seu sucesso agrícola.

Referências

Os dados utilizados para a elaboração desses mapas correspondem ao período de 34 anos (1980 a 2013), informações dos dados apresentadas no artigo XAVIER, A. C.; KING, C. W.; SCANLON, B. R. Daily gridded meteorological variables in Brazil (1980–2013). International Journal of Climatology, [S.l.], v.36, p. 2644–2659, 2016.