O impacto das mudanças climáticas na agricultura
A agricultura é uma atividade altamente dependente de fatores climáticos, por isso a mudança no clima pode afetar a produção agrícola de várias formas: mudança na severidade de eventos extremos, no número de graus-dia de crescimento devido as alterações na temperatura do ar, modificação na ocorrência e na severidade de pragas e doenças, dentre outros.
O aumento da temperatura e modificações no regime da chuva, como visto no post “Irrigação como medida de adaptação as mudanças climáticas”, poderá provocar perdas significativas nas safras de grãos e alterar a geografia da produção agrícola brasileira, colocando em risco a segurança alimentar no país.
Problemas fitossanitários
Um dos efeitos da mudança do clima na agricultura será a alteração do cenário de doenças e seu manejo que, certamente, causará impacto na produtividade agrícola.
As mudanças climáticas poderão ter efeitos diretos e indiretos tanto sobre o agente infeccioso quanto sobre as plantas hospedeiras e a interação de ambos.
Dentre os efeitos diretos está a mudança na distribuição geográfica.
O zoneamento agroclimático da planta hospedeira será alterado, da mesma forma os patógenos e outros microrganismos relacionados com o processo de doença serão afetados.
Assim, em determinadas regiões, novas doenças poderão surgir e outras perder a importância econômica se a planta hospedeira migrar para novas áreas.
A distribuição temporal também pode ser afetada.
Os patógenos, especialmente os que infectam folhas, apresentam flutuações quanto à ocorrência e à severidade durante o ano, que são atribuídas as variações das condições meteorológicas.
O aumento da umidade, por exemplo, durante a estação de crescimento pode favorecer o aumento da produção de esporos. Por outro lado, doenças como os oídios são favorecidas por condições de baixa umidade.
Outro exemplo é a redução de dias com chuva no verão que pode diminuir a dispersão de diversos patógenos.
Os efeitos indiretos estão relacionados com outros organismos que interagem com o patógeno da doença e a planta hospedeira.
Doenças que requerem insetos ou outros vetores poderão apresentar uma nova distribuição geográfica, ou temporal.
Aumentos na temperatura ou incidência de secas poderão levar vetores, como insetos, para regiões onde ainda não atuavam, estendendo a área de ocorrência de doenças.
Zoneamento climático para a agricultura
De acordo com as projeções de aumento da temperatura do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) a configuração da agricultura brasileira pode mudar significativamente nos próximos anos.
Culturas como algodão, arroz, café, feijão, girassol e milho sofrerão uma diminuição da área favorável ao plantio, exceto a cana de açúcar e a mandioca.
As áreas que hoje são as maiores produtoras de grãos podem não estar mais aptas ao plantio antes do final do século, ou seja, ocorrerá migração dessas culturas para regiões nas quais hoje não são cultivadas.
A região Nordeste sofrerá perda significativa na produção de milho, arroz, feijão e algodão, a sobrevivência do café será pouco favorável na região Sudeste e a região Sul se tornará propícia ao plantio dessa cultura além da mandioca e da cana de açúcar, devido ao aumento da temperatura e a redução do risco de geadas.
A soja será a cultura mais afetada com a mudança no clima. Com diminuição de até 41% de áreas baixo risco para o plantio do grão em todo país em 2070, em decorrência do aumento da deficiência hídrica e de possíveis veranicos mais intensos, gerando prejuízos de bilhões de reais.
Isso poderá levar à metade das perdas projetadas para a agricultura brasileira.
Por outro lado, a cana-de-açúcar, por gostar de calor, irá se espalhar por milhões de hectares, as projeções futuras indicam que a área cultivada de cana será no mínimo duas vezes maior que a atual.
Áreas localizadas nas maiores latitudes, que hoje apresentam restrições para a cana pelo alto risco de geadas, perdem essa característica, principalmente no Rio Grande do Sul, e se transformarão em regiões de potencial produtivo.
O Centro-Oeste, que hoje apresentam um alto potencial produtivo, permanecerão como áreas de baixo risco, porém vão depender mais da irrigação complementar para garantir a produtividade.
Eventos Extremos e a agricultura
Há vários eventos climáticos extremos associados ao aumento de temperatura global que podem afetar a agricultura, como:
- Ondas de calor
- Veranicos
- Chuvas e ventos intensos
Ondas de calor
Temperaturas máximas diárias acima de 32°C são responsáveis pela queda da produção agrícola, uma vez que interferem nas fases do ciclo fenológico das culturas e no desenvolvimento de órgãos vitais das plantas.
Espera-se que por volta do ano 2050 a produtividade da maior parte das culturas agrícolas do Brasil sofrerão um decréscimo acentuado, devido ao excesso de calor.
[elementor-template id=”12428″]Veranicos
Período de estiagem, acompanhado por calor, forte insolação e baixa umidade relativa em plena estação chuvosa ou em pleno inverno, podem resultar em maior necessidade de irrigação.
O cultivo da soja pode se tornar cada vez mais difícil na região Sul e alguns estados do Nordeste podem perder significativamente sua área agricultável.
Chuvas e ventos intensos
O aumento da frequência de chuvas e tempestades fortes na região Sul pode causar problemas para a mecanização agrícola devido à inundação das áreas cultivadas.
Plantações de cana de açúcar, trigo e arroz também podem sofrer perdas devido a ventos fortes, que leva ao acamamento dessas culturas.
A pulverização de defensivos contra pragas e doenças será dificultada devido a ventos fortes ou chuva intensa.
É preciso entender melhor o ambiente para tomar melhores decisões
É fundamental que a sociedade, de forma geral, incluindo as fazendas e cooperativas incorporem à gestão de riscos decorrentes das mudanças climáticas em seus processos de planejamento.
Parte disto está associado à identificação da vulnerabilidade atual aos impactos de eventos climáticos na agricultura.
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