Irrigação de pastagem: como obter boa produtividade animal

A irrigação de pastagem é uma alternativa interessante para aumento da produtividade animal, porém, para que funcione e gere os benefícios esperados, precisa ser bem planejada e o sistema de produção preparado para recebê-la.

Assegurar produtividade elevada de leite de boa qualidade é requisito essencial para o sucesso da atividade como modalidade de exploração econômica da terra.

Por essa razão, tem crescido o interesse sobre a verticalização da produção por meio de aumento da produção por unidade de área da fazenda, ou seja, pela intensificação do processo produtivo.

Essa intensificação pode ser feita de várias formas, que variam em grau de complexidade e custo, começando pela simples colheita eficiente e adequada da forragem produzida, passando pelo uso de fertilizantes, especialmente nitrogenados, e chegando ao uso da irrigação de pastagem.

Este último é um recurso caro e precisa ser utilizado com parcimônia, uma vez que modifica drasticamente o ritmo de crescimento das plantas e altera, significativamente, a velocidade dos processos e a necessidade de monitoramento e controle do processo de pastejo, devendo ser considerado como o último degrau a ser galgado e explorado pelo produtor rural, uma vez que requer preparo e sabedoria para sua utilização.

Intensificação do processo produtivo

A competitividade entre as alternativas técnicas disponíveis de uso da terra tem aumentado nos últimos anos, particularmente depois da abertura da economia nacional à competição com produtos importados.

Nesse cenário, competir de forma eficiente se tornou questão de sobrevivência e levou técnicos e produtores a buscar especialização e capacitação cada vez maiores para se manterem ativos na atividade.

A intensificação assumiu papel de destaque no planejamento e discussões técnicas sobre o assunto e o aumento de produtividade passou a ser buscado a todo custo, muitas vezes de forma pouco racional, por meio de uso excessivo e/ou desnecessário de recursos financeiros e insumos.

Nesse contexto, a irrigação de pastagem ganhou destaque e começou a ser considerada uma opção interessante para a melhoria e aumento dos índices produtivos das fazendas.

Contudo, é importante lembrar que água é apenas um dos vários fatores produtivos que determinam o crescimento e a produção de forragem dos pastos.

Para que seu efeito possa ser realizado e o objetivo de produção alcançado é necessário que existam outros fatores de crescimento disponíveis de forma não restrita, como, por exemplo, luz solar, temperatura e nutrientes no solo.

Dessa maneira, o uso de irrigação de pastagem requer um bom planejamento, respeitando uma série de arranjos hierárquicos no processo de tomada de decisão e implantação de tecnologias na fazenda, sem se esquecer, ainda, que mexe com apenas uma das três etapas do processo produtivo, o crescimento das plantas.

Irrigação de pastagem
Irrigação de pastagem (Fonte: Agroclique)

Fatores climáticos e de ambiente e o crescimento das plantas forrageiras

Para o crescimento da planta forrageira são necessários luz, temperatura, água e nutrientes.

Sempre que a disponibilidade de um ou mais desses fatores de crescimento é reduzida, o crescimento das plantas é pequeno, e a produção de forragem baixa, caracterizando a estacionalidade de produção, que é um dos maiores problemas da produção animal em pasto.

Nesse contexto, para que ritmos acelerados de crescimento e produção possam ser atingidos, é necessário que todos os fatores de crescimento estejam presentes.

Normalmente, o uso de irrigação em pastagens favorece muito o crescimento das plantas nas épocas quentes do ano, quando ocorre falta de água, os chamados veranicos.

Já em regiões de inverno frio e seco, a irrigação de pastagem não gera resultados significativos, uma vez que o fator limitante, além da água, é a baixa temperatura.

Irrigação de pastagem na produção de vacas leiteiras
Irrigação de pastagem na produção de vacas leiteiras (Fonte: Embrapa)

Cada planta forrageira possui uma temperatura basal mínima, abaixo da qual seu crescimento é praticamente paralisado.

Normalmente, são comuns valores variando entre 13ºC e 17ºC para espécies de gramíneas forrageiras tropicais.

Dessa maneira, se as temperaturas mínimas de uma dada região são inferiores à temperatura basal específica da planta em uso, não adianta irrigar porque a planta não irá crescer.

É por essa razão que quanto mais distante da linha do Equador (paralelo 0), mais crítica é a condição de ambiente durante os meses de inverno (temperaturas baixas), o que faz com que a irrigação de pastagem aumente a produção de verão e praticamente não altere a de inverno, aumentando ainda mais a estacionalidade de produção e agravando o problema de distribuição e disponibilidade de alimento ao longo do ano para os animais.

Nesse contexto, a irrigação de pastagem seria uma alternativa muito mais interessante para aumentar a produção de verão apenas, o que é condizente com um sistema tipicamente estacional de produção (característica muitas vezes pouco desejável quando é considerado o aspecto comercial e econômico da exploração) ou altamente dependente de forragem conservada e/ou culturas forrageiras suplementares.

Por outro lado, nas regiões próximas do Equador (paralelos 0 a 5), a amplitude térmica entre as épocas de verão e inverno é pequena, o que favorece o uso mais eficiente da água e da irrigação, uma vez que é possível propiciar crescimento acelerado das plantas forrageiras durante praticamente o ano todo, possibilitando fluxo mais adequado da produção e menor dependência de alimentos volumosos suplementares.

Esses são aspectos importantes que precisam ser levados em consideração no planejamento dos investimentos no sistema de produção, uma vez que implicam em gastos grandes de recursos financeiros que, por vezes, não têm o retorno necessário.

Vale lembrar também que plantas irrigadas, sob condições adequadas, crescem mais rápido, requerendo ajustes no manejo do pastejo normalmente associados com períodos de descanso mais curtos, maiores taxas de lotação e maior necessidade de controle e monitoramento do processo de pastejo.

Caso a introdução da irrigação de pastagem não seja acompanhada desses ajustes no manejo do pastejo, existe um risco muito grande de se perder o “ponto de colheita” da forragem, fazendo com que o valor nutritivo da mesma seja baixo, as perdas de pastejo muito elevadas e as dificuldades de rebaixamento dos pastos aumentadas, impedindo que os benefícios potenciais da irrigação de pastagem sejam alcançados.

O uso da irrigação em sistemas de produção animal em pasto

O processo de intensificação da produção animal em pasto deve seguir uma sequência lógica e hierárquica, de forma que as premissas básicas para que os benefícios alcançados em cada nível hierárquico anterior sejam mantidos e propiciem condições de progresso para o nível seguinte.

Dessa forma, independentemente da quantidade de forragem produzida no pasto, o primeiro passo é sempre colher muito bem a forragem produzida, de forma eficiente e no ponto ideal, assegurando o valor nutritivo da forragem consumida e perdas reduzidas de pastejo.

Se este primeiro nível hierárquico é atingido e mantido com sucesso, o próximo nível seria o de aumentar o crescimento e a produção da planta forrageira, sem, contudo, abrir mão da colheita eficiente e adequada da forragem.

Nesse contexto, surgem as práticas e os investimentos em fertilidade e correção do solo, particularmente o uso de fertilizantes nitrogenados, reconhecidamente determinantes da produção de forragem.

Se nesse segundo nível de intensificação a colheita continuar sendo realizada de forma adequada, o aumento em produtividade é muito grande e passa agora a ser limitado por períodos de falta de água (veranicos e/ou período seco do ano).

Irrigação de pastagem com pivô central
Irrigação de Pastagem via Pivô Central (Fonte: Globo Rural)

Nessa condição, o último degrau da intensificação seria a irrigação, como forma de suprir o déficit hídrico das plantas e assegurar maior crescimento e produtividade.

Vale lembrar que para que esse degrau seja alcançado e os benefícios a ele atribuídos realizados, o sistema deve passar por uma série de modificações e ajustes significativos como:

  • Treinamento e adequação da mão de obra para monitoramento adequado e controle do processo de pastejo utilizando de forma correta;
  • Aumento do rebanho e da taxa de lotação da fazenda;
  • Melhoria de cercas e subdivisão dos pastos e pontos de bebida de água para os animais;
  • Produção de alimentos volumosos suplementares (forragem conservado e/ou culturas forrageiras);
  • Disponibilização de locais de armazenamento e fornecimento desses alimentos;
  • Adequação de infraestrutura de máquinas e equipamentos.

Estes, ao mesmo tempo que são fatores condicionantes de maior produção, são determinantes e exigem maiores custos e riscos para a atividade, o que faz com que o nível de preparo tanto do proprietário como do administrador e da mão de obra da fazenda tenha que ser mais elevado, de forma a assegurar gestão eficiente e adequada no novo empreendimento agrícola.

Além disso, esses fatores impõem a necessidade obrigatória de planejamento da atividade rural, considerando riscos, incertezas, perspectivas de mercado, metas de curto, médio e longo prazo, além da necessidade de acompanhamento sistemático da implantação e execução do plano de ação.

Conclusão

Em resumo, a irrigação de pastagem corresponde ao último degrau de uma escada de intensificação que tem como premissa básica, para gerar os benefícios esperados, assegurar colheita eficiente e correta da forragem.

Além disso, é uma forma interessante de aumento de produtividade e intensificação do processo produtivo, porém é cara e requer uso planejado.

Geralmente, irrigação de pastagem aumenta a estacionalidade de produção de forragem e, como consequência, requer maior uso e produção de alimentos volumosos suplementares, investimentos adicionais que devem ser feitos além da aquisição de maior número de animais.

Assim, a maior produtividade obtida por meio de irrigação vem associada a maiores custos de produção e riscos, razão pela qual há necessidade de planejamento adequado e apoio de pessoal especializado para sua realização.

Por: Profº Drº Sila Carneiro da Silva | Professor do Departamento de Zootecnia da ESALQ/USP. Atua nas áreas de Fisiologia de Plantas Forrageiras e Manejo de Pastagens.
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