Você sabe o que fazer para minimizar o impacto de possíveis geadas no café?

Geadas no café: Veja quais as geadas mais frequentes, seus danos e como preveni-los. 

Por: Henrique Fabricio Placido
Mestre em Fitotecnia pela ESALQ/USP

Vivemos em um país com grande diversidade climática que proporciona condições ideais para produção de diversos cultivos.

Porém muitas vezes podem ocorrer fenômenos meteorológicos adversos aos nossos cultivos, como ondas de calor, períodos de estiagem ou massas de ar frio. 

Quando o assunto é clima a palavra correta é prevenção, ter um bom planejamento faz todas a diferença para não ser surpreendido pelo clima.

Por isso, confira informações importantes sobre geadas no café e como se prevenir de prejuízos.   

Impactos negativos da ocorrência de geada no café

Na agronomia, a geada pode ser definida como fenômeno atmosférico que provoca a morte das plantas ou de suas partes, em função da baixa temperatura do ar que acarreta no congelamento dos tecidos vegetais, havendo ou não formação de gelo sobre as plantas.  

As geadas podem ser comumente classificadas pelo seu aspecto visual:

  • Geada Branca: ocasiona o congelamento da parte superficial da cultura, ocorrendo em condições de maior umidade do ar, quando efetivamente existe o congelamento de água;
  • Geada negra: ocasiona o congelamento da parte interna da cultura, ocorre em condições de pouca umidade.

Além disso a geada pode ser classificada de acordo com a parte da planta que foi afetada: 

  • Geada de capote: Atinge apenas a parte externa das plantas.
  • Geada de canela: Atinge apenas o tronco em lavouras de até 1,5 anos.

Ou pode queimar a planta como um todo. 

Vale lembrar que a cultura do café não está adaptada a baixas temperaturas, sendo que temperaturas abaixo de 15°C já podem diminuir seu crescimento e desenvolvimento.

Assim, quando submetidas à temperaturas próximas de -3 a -4°C, as plantas apresentam injúrias e isso pode ser letal aos tecidos das folhas e ramos.

Já no tronco, temperaturas próximas a -2°C  também podem ser letais aos tecidos.

A gravidade dos danos dependem do momento em que a planta é exposta a geada e os locais de congelamento. 

Quanto mais jovem, mais suscetíveis as plantas são aos efeitos prejudiciais da geada, por isso essa é a fase que devemos tomar mais cuidado

Cafezal afetado por geada (Fonte: Agrolink)

Prejuízos ocasionados pelos diferentes tipos de geadas no café

No caso da geada branca pode ocorrer congelamento da superfície das folhas, diminuindo o potencial fotossintético e prejudicando desenvolvimento da planta devido a falta de fotoassimilados. 

Esse tipo de geada também pode afetar as zonas de brotação, podendo estimular gemas produtivas a entrarem em estado vegetativo.

Isso afetará o balanço energético da planta, fazendo com que a planta gaste mais energia no crescimento do que em produção. 

Na prática, essa geada pode afetar diretamente os frutos diminuindo sua qualidade.

Um tipo de geada um pouco mais perigoso é a geada de canela, que leva ao congelamento da seiva no caule das plantas próximo ao solo.

Assim toda região acima dessa parte atingida morre, ocorrendo brotação abaixo dessa região. A geada de canela afeta principalmente mudas e lavouras em formação, com plantas de até 1,5 anos!

Caso você tenha campos nessa fase, fique mais atento ao clima!

O tipo mais devastador e felizmente mais incomum são as chamadas geadas negras, que ocorrem quando baixas temperaturas são associadas a baixa umidade de ar. 

Nestas condições, ocorre o congelamento da seiva da planta em vários locais, ocasionado morte completa do cafeeiro, com perda dos frutos mesmo próximo a colheita.

Felizmente, a última geada deste tipo ocorreu a 45 anos atrás, porém seu resultado foi devastador. E mudou os rumos da história do café no Paraná. 

A ocorrência de geadas foi um dos principais motivos da redução de área plantada de café no Paraná, região produtora com maior incidência de geadas.

Porém, algumas práticas podem ser muito eficientes para impedir que os danos ocasionados por geada ocorram, confira!

Cafezal queimado por geada (Foto : Aldinei Andreis)

Como prevenir sua lavoura dos efeitos da geada

Veja as principais dicas para prevenir sua lavoura de danos ocasionado por geadas. 

1ª dica: Cuidado com o zoneamento agroclimático e o sentido do vento

Seguir o zoneamento agrícola da cultura é muito importante para evitar riscos climáticos, principalmente quando se trata de geadas. 

Muitos produtores motivados pelo aumento da média de temperatura nos últimos anos tem voltado a cultivar café em áreas com histórico de geadas no passado. 

Porém, é uma prática muito arriscada, visto que estando fora do zoneamento agrícola esta lavoura não poderá ser assegurada em anos de maior risco.

Além disso, evitar áreas de baixada plantando acima das linhas de geadas é uma excelente estratégia para evitar esse problema. 

Como o ar frio é mais denso, tende a descer para áreas mais baixas. 

Por isso, dentro do zoneamento agrícola os produtores devem dar preferência para plantio em terrenos com declive superior a 5%, localizadas entre o topo do espigão e a meia encosta. 

Dando preferência, principalmente, para as faces voltadas para o norte!

Como a maioria das geadas no brasil ocorrem por causa de massas de ar frio o percurso que o vento terá em sua propriedade é muito importante. 

Por isso invista em plantas herbáceas ou arbustivas que barrem as massas de ar frio de chegarem nas suas plantas. Usando plantas como guandu, grevílea e bracatinga. 

Principalmente em áreas com maior declividade tenha muito cuidado com o porte das plantas acima e abaixo de sua lavoura, pois essas plantas podem favorecer o escoamento da massa de ar frio para sua lavoura ou represá-lo impedindo que saia da sua lavoura. 

2ª Dica: Escolha de variedades e manejo

Escolha variedades precoces, em regiões com maior probabilidade de geadas, assim a planta irá produzir mais cedo, evitando que os frutos estejam verdes quando as geadas ocorrerem.

Outro ponto importante é a adubação das plantas.

Realizar uma boa adubação, principalmente com potássio, deixará as plantas menos suscetíveis aos efeito negativos da geada.

Além disso, você  deve manter o solo limpo a partir de abril (sem matéria vegetal viva ou morta). Isso é extremamente necessário para evitar problemas com geadas!

Quando ocorre presença de plantas ou palha no solo esta matéria refletirá boa parte da radiação do solo, caso o solo esteja limpo o solo passará o dia absorvendo radiação solar e liberará essa radiação durante o período noturno que poderá impedir a formação de geadas.    

3ª Dica: Tenha um bom sistema de monitoramento de condições climáticas

É de suma importância que o produtor tenha um sistema de monitoramento de condições climáticas, que possa avisá-lo sobre o risco da ocorrência de geadas. 

Sabendo com antecedência sobre o risco de geadas o produtor pode tomar algumas medidas para impedir o congelamento das plantas. 

4ª Dica: Utilize coberturas e/ou solo para manter a plantas aquecidas no período noturno

No caso de viveiros, recomenda-se o uso de plásticos tratados para evitar a perda de radiação de ondas longas, restringindo a perda de calor no período noturno. 

Para plantas de até 6 meses recomenda-se que elas sejam flexionadas junto ao solo e cobertas com solo. Caso você tenha disponibilidade, utilize tubos de PVC ou Bambus como proteção.

No caso de plantas mais desenvolvidas recomenda-se a cobertura da base do café com solo para evitar geada de canela.

Fique atento, pois após passar o período de alerta de geadas as plantas devem ser imediatamente descobertas para evitar danos!

Conclusão

Vimos neste artigo importância do planejamento para evitar os prejuízos com geadas na cultura do café.  Falamos sobre os principais tipos de geadas e o prejuízos causados para o café.  Além disso vimos, algumas dicas essenciais para evitar o congelamento de suas plantas. 

Você já enfrentou algum problema de geada? Já utilizou alguma dessas técnicas? Ficou alguma dúvida? Adoraria ver seu comentário abaixo! 

Henrique Fabricio Placido, engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre em Fitotecnia pela ESALQ/USP. Especialista em Gestão de Projetos pela mesma instituição. Atualmente, doutorando em Agronomia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com ênfase em proteção de plantas.