Como a tecnologia pode facilitar o acesso ao crédito rural

A oferta de novas modalidades de crédito rural tem crescido no Brasil, com os avanços tecnológicos e novas instituições financeiras conhecidas como agfintechs

As inovações tecnológicas têm avançado no agronegócio brasileiro.

De acordo com a CBAP (Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão), 67% das áreas agrícolas do país já adotaram algum tipo de inovação tecnológica. 

As tecnologias geram benefícios tanto para quem vive no campo – com ganho de eficiência e redução do impacto ambiental – quanto para empresas ligadas ao setor.

Dentre elas, as que concedem crédito rural, a exemplo das agfintechs, que utilizam ferramentas tecnológicas para tornar mais fácil o acesso ao crédito rural.

Saiba mais neste artigo sobre essas agfintechs e como a tecnologia pode te auxiliar a obter acesso ao crédito rural. Aproveite a leitura!

O que é o crédito rural

Criado em 5 de novembro de 1965, por meio da Lei nº 4.829, o crédito rural é um instrumento de política pública voltado para financiar a atividade agropecuária brasileira.

Concedido inicialmente por bancos públicos, o crédito rural, hoje, pode ser acessado em: bancos privados; cooperativas de crédito; e agfintechs, ou seja, startups de agro que atuam com o uso de tecnologias nos serviços financeiros.

Pessoas físicas e jurídicas, e cooperativas rurais, do pequeno ao grande produtor, podem acessar o crédito rural, cujas regras estão no MCR (Manual do Crédito Rural).

Os tipos de crédito rural são os seguintes: 

  • Custeio: para atender às despesas de todo o ciclo produtivo;
  • Investimento: quando é destinado para bens e serviços que gerem benefícios por mais de um ciclo de produção;
  • Comercialização: voltado para atender as despesas de pós-produção;
  • Industrialização: destina-se à industrialização de produtos agropecuários, tanto de cooperativas quanto de produtores rurais.    

Integrante do Plano Safra, principal política pública do Governo Federal para incentivar o desenvolvimento econômico e social no campo, o crédito rural pode ser usado ainda para projetos de sustentabilidade dentro da fazenda.

Os recursos do crédito rural são oriundos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e de fundos constitucionais. Veja mais detalhes abaixo:

crédito rural
Esquema explicativo sobre a origem do dinheiro do crédito rural (Fonte: BNDES)

Categorias de produtor e modalidades de crédito rural

O acesso ao crédito rural atende às regras do MRC, que classifica o produtor rural está dividido em três categorias, conforme a RBA (Renda Bruta Agropecuária Anual).

Assim, tem-se as seguintes classificações:

  • A de pequeno produtor: renda anual de até R$ 500 mil;
  • A de médio produtor: entre R$ 500 mil e R$ 2,4 milhões;
  • E a de grande produtor: acima de R$ 2,4 milhões.  

Com base nisso, são definidas as modalidades de financiamento específicas para cada público, taxas de juros, carências, prazos de pagamento e limites de crédito.

É importante destacar que o crédito rural pode ser usado para projetos de sustentabilidade dentro da fazenda.

Os recursos disponíveis nos bancos oficiais são oriundos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e de fundos constitucionais.

As instituições financeiras não oficiais, como as agfitechs, seguem as mesmas regras do MCR e para operar precisam estar cadastradas no Banco Central, que realiza fiscalização periódica sobre o cumprimento das normas.

Veja abaixo as modalidades e os valores, tendo por base o Plano Safra 2021/2022.

Pronaf

No Plano Safra 2021/2022, o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) teve disponibilizado para custeio e comercialização R$ 21,74 bilhões, com 12 meses de prazo para pagamento, e juros entre 3% e 4,5% ao ano.

O Pronaf Investimento, por sua vez, disponibilizou R$ 17,6 bilhões, sendo o limite por beneficiário de até R$ 200 mil, carência de 3 anos e 8 anos para quitar a dívida. Juros também de 3% e 4,5%/ano.

Moderfrota 

Modalidade que é voltada somente para investimento, o Moderfrota (Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados a Colhedeiras) teve R$ 7,53 bilhões para investimento.

O prazo de pagamento é de 7 anos, com carência de 1 ano e dois meses e taxa de juros de 8,5% ao ano.

Inovagro    

Um dos mais importantes no contexto atual, essa modalidade de crédito é voltada para inovações tecnológicas.

No Plano Safra, teve disponibilizado R$ 2,6 bilhões, sendo que cada beneficiário pode pegar entre R$ 1,3 milhão e R$ 3,9 milhões.

Os juros são de 7% ao ano, a carência de 3 anos e o prazo de pagamento de 10 anos. 

PCA

Esta modalidade é utilizada para a construção e ampliação de armazéns. Teve R$ 4,12 bilhões no Plano Safra (R$ 25 milhões por beneficiário), carência de 3 anos, juros entre 5,5% e 7% ao ano e prazo de pagamento de 12 anos. 

Pronamp

O Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural), no Plano Safra, teve disponibilizado para custeio e comercialização R$ 29,18 milhões, sendo os juros de 5,5% ao ano e prazo de 12 anos para pagamento.

Por sua vez, o Pronamp investimento teve programado R$ 4,88 bilhões (até 430 mil por beneficiário), carência de 3 anos, prazo de pagamento de 8 anos e juros de 6,5%/ano.

Desafios para concessão do crédito rural

Tradicionalmente, o acesso ao crédito rural se dá por meio de bancos oficiais, onde é preciso apresentar uma série de documentos pessoais e da propriedade rural.

Além disso, é preciso ainda que seja elaborado um projeto detalhado sobre como e em quanto tempo o dinheiro será aplicado, o que requer acompanhamento técnico.

Neste contexto, a elaboração do projeto para acesso ao crédito é uma das partes mais difíceis de serem feitas, e depois ainda tem que esperar a resposta do banco, o que leva cerca de 60 a 90 dias, em média, sendo que ainda podem ser requeridas correções.

Para o banco, a concessão de crédito rural também é uma tarefa muito trabalhosa, já que se trata de dinheiro que deverá ser pago com juros e no prazo previsto em contrato. Por isso, a análise sobre o projeto deve ser rigorosa, para reduzir os riscos da inadimplência.  

Todos os detalhes para o acesso ao crédito rural constam no MRC, cujas regras ano passado foram reduzidas a mais da metade por parte do Banco Central, com vistas à simplificação do acesso ao crédito. 

Outra iniciativa do Banco Central foi a abertura para que outras instituições financeiras privadas, cooperativas e as agfintechs também concedam crédito rural.   

No caso das agfintechs, a grande vantagem é que elas trabalham prioritariamente com tecnologias que agilizam o crédito rural, além de outras modalidades de concessão.

Acesso ao crédito rural com o uso de tecnologias

Em 2021, a Abstartups (Associação Brasileira de Startups) mapeou 299 agtechs no Brasil, sendo que 43,8% atuam com serviços financeiros diversos.

As agfintechs funcionam, basicamente, como um banco digital, e usam a tecnologia (sobretudo a inteligência artificial) para reduzir a burocracia do mercado de crédito tradicional.

O volume de recursos disponíveis varia de acordo com cada agfintech, muitas das quais realizam análises por meio de tecnologias que muitos bancos ainda não utilizam, como por exemplo:

  • Monitoramento por satélite;
  • Gerenciamento de dados em nuvem;
  • Banco de dados (big data) com informações diversas;
  • E análise por inteligência artificial, o que possibilita uma resposta em um menor período de tempo.

Assim, em alguns casos, o dinheiro pode ser liberado em até 48 horas.

Com isso, é possível ter acesso ao dinheiro de forma mais rápida e prática a partir de diversas opções como:

  • LCA (Letra de Crédito do Agronegócio);
  • LCI (Letra de Crédito Imobiliário);
  • CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio);
  • Barter;
  • Arrendamento;
  • Penhor Rural.    

Além disso, as agfintechs oferecem serviços para redução dos riscos na concessão do crédito, com:

  • Monitoramento por satélites;
  • E o cruzamento de dados públicos e privados.

Com isso, é possível ter mais segurança tanto para quem concede o crédito quanto para quem deseja obter o financiamento.

Vantagens de obter crédito rural nas agfintechs 

O método de operação das agfintechs varia de empresa para empresa, mas sempre seguindo as normas do Banco Central e do MCR.

No geral, elas oferecem as seguintes vantagens em relação aos bancos tradicionais:

  • Liberação do dinheiro em menos tempo: enquanto nos bancos chega a quase 90 dias, nas agfintechs é possível a liberação em até 48h.
  • Atendimento digital: ao contrário dos bancos tradicionais, com filas e demora, o atendimento nas agfintechs pode ser todo virtual, reduzindo a burocracia e tornando todo o processo mais fácil e rápido;
  • Parcelamento e taxas: enquanto os bancos possuem parcelamentos e taxas fixas, conforme o MCR, nas agfintechs é possível obter parcelamentos e taxas personalizadas;
  • Sem abertura de conta: outra vantagem é que, ao contrário do crédito oficial, para obter o dinheiro por meio de uma agfintech não precisa abrir conta para liberação do crédito.

Conclusão

O uso da tecnologia na concessão do crédito rural, como você viu neste artigo, possui diversos benefícios, sendo os principais a redução da burocracia existente nos bancos oficiais e o menor tempo de resposta para a liberação do financiamento.

Mas, sendo a partir de banco público, privado, cooperativa ou agfintechs, tenha em mente que o dinheiro obtido deverá ser investido conforme o seu projeto de aplicação.

Assim, antes de obter o crédito, o produtor deve ter um projeto bem elaborado para saber o que fará com ele e, dessa forma, desenvolver a sua produção. 

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