Segunda safra de milho surpreende em 2019
Até o começo da década de 1990, a 2ª safra de milho teve participação modesta no orçamento do agricultor, no entanto não é mais assim.
O objetivo da segunda safra é potencializar a produção de milho cultivada “extemporaneamente”, ou seja, o período que compreende os meses de janeiro a abril em muitas regiões. Por isso, quase sempre é realizada com soja precoce, no Centro-Sul brasileiro (CRUZ; PEREIRA FILHO; DUARTE, 2012).
Contudo, muitos produtores se perguntam da real rentabilidade da safrinha tendo em vista os baixos preços oferecidos nos últimos anos frente ao aumento do custo de produção.
Crescimento da segunda safra
Através dos dados fornecidos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), podemos perceber um crescimento rápido no percentual que a segunda safra representa em relação à produção total de milho no ano, veja Figura 1.
Produtividade
Nota-se assim, uma mudança de comportamento do produtor e uma consequente mudança na produção do milho ao longo do tempo. Assim sendo, a 2ª safra rapidamente ganhou importância ao, a partir de 2011, ter ultrapassado a 1ª safra no total produzido, veja a Figura 2.
Atenta-se, portanto, para o dado 100% de produtividade na Figura 2, este valor representa a média de produtividade entre a 1ª e 2ª safras referentes ao ano-safra.
Aumento da área cultivada
O terceiro gráfico comparativo mostra um crescimento gradativo na área utilizada para 2ª safra. Essa mudança é um reflexo do comportamento do agricultor, ou seja, este passou a buscar valor na segunda safra, vide Figura 3.
Influência do regime de chuvas
Nesse ano algumas regiões produtoras foram agraciadas com bastante chuva, ainda mais no momento que a planta fez melhor uso. Essa sincronia trouxe assim a promessa de safra abundante que, segundo estimativas do Conab, deve alcançar 95,2 milhões de toneladas.
Um bom exemplo é a região Centro-Oeste, com destaque ainda mais especial para cidades com alto acumulado de chuvas entre janeiro e maio de 2019, veja Tabela 1. Contudo outras regiões, como Linhares no Espírito Santo, tiveram acumulados de chuva na safra de aproximadamente 80 mm entre Fevereiro à Maio de 2019.
Os bons resultados obtidos no Centro-Oeste estão diretamente relacionados com o regime de chuvas. Pode-se perceber a influência das chuvas nos dados de unidades monitoradas pelo sistemas Agrosmart.
Tabela 1. Acumulados de chuva em 2019 para o milho safrinha, dados da Agrosmart
Acumulado de chuva (mm) | ||||||
Cidade/UF | Janeiro | Fevereiro | Março | Abril | Maio | Total |
Ribas do Rio Pardo/MS | 205,6 | 78 | 88,8 | 81,8 | 88,8 | 543 |
Querência/MT | 132,6 | 95,6 | 260,8 | 100,6 | 72,8 | 662,4 |
Itiquira/MT | 290,6 | 213,8 | 214,4 | 295 | 61,2 | 1075 |
O valor acumulado de chuva de 80 mm é, no entanto, abaixo da média climatológica para o período em Linhares. De acordo com os dados do INMET, esse volume corresponde apenas a 19,3% do volume normal da região.
Manejo da segunda safra
Na região Centro-Oeste, o sucesso da colheita da safrinha começa desde a escolha da cultivar. A preferência é pelas variedades superprecoces e precoces. Entretanto, o manejo da fertilidade do solo, das daninhas, pragas, doenças e a contribuição da chuva bem distribuída nas fases fenológicas do milho são também fatores primários para alcançar boa produtividade.
Dessa forma, a semeadura do milho pode ser realizada entre janeiro e fevereiro, para evitar altas temperaturas no primeiro mês do ano ou veranicos entre abril e/ou maio, pois é uma época importante para se obter boa produção (Pereira Filho; Borghi, 2018).
Necessidades em cada fase
Cada fase do milho possui diferentes exigências e existem pontos críticos que, por isso, devem ser observados. No período entre a germinação e a emergência, por exemplo, o ideal é em torno de 18°C sem déficit hídrico.
A fase de pendoamento, também denominada de VT, é muito prejudicada pela frequência de alta temperaturas e combinadas com o déficit hídrico levam à assincronia da emissão dos órgãos reprodutivos, o que pode reduzir a produtividade drasticamente. Ou seja, além de reduzir a produção, essas situações também afetam a uniformidade dos grãos. Dessa forma, a qualidade da safra também sofre.
Já no estágio R1, uma alta frequência de temperaturas acima de 35°C reduzem a viabilidade dos grãos e a produtividade, portanto são consideradas condições favoráveis as temperaturas acima de 16°C e abaixo de 35°C.
E por fim, da formação do grão leitoso ao grão duro, entre as fases fenológicas R2 e R5, uma alta frequência de dias nublados ou déficit hídrico podem reduzir principalmente o peso dos grãos.
Resultados obtidos
Portanto, de uma maneira geral, as condições para boa produção dessa safrinha atenderam as necessidades do cultivo de forma mais que satisfatória, ocasionando o fenômeno da super-safrinha.
Essa super-safrinha impacta diretamente o valor do produto no mercado, pois torna a oferta muito grande, fazendo o valor cair.
Muitos agricultores se preocupam com a variação de preço da safrinha, pois ela tem se tornado cada ano mais importante para a renda do produtor rural.
A evolução do preço infelizmente ainda não é tão animadora quanto a estimativa desta safra de milho, veja Figura 4. A safra no Mato Grosso ainda não está no fim, contudo espera-se uma melhora no preço ao longo dos próximos dias.
Com a queda de preço ao longo da colheita, o agricultor pode ter se desanimado. No entanto, é um efeito esperado pelo aumento da oferta provocado pela super-safrinha que ocorreu. Apesar dessa situação desfavorável, vemos o crescimento da safrinha e da produção total de milho no país favorecer alguns avanços, como tem ocorrido no campo dos biocombustíveis, por exemplo.
Caso de sucesso
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Referências
- CRUZ, J. C.; PEREIRA FILHO, I. A.; DUARTE, A. P. Milho safrinha. https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/milho/arvore/CONT000fya0krse02wx5ok0pvo4k3mp7ztkf.html. Acesso em 31 de maio de 2019.
- PEREIRA FILHO, I. A.; BORGHI, E. Sementes de milho no Brasil: a dominância dos transgênicos. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2018. 31 p. (Embrapa Milho e Sorgo. Documentos, 223).