Alguns alimentos são bastante sensíveis aos tratos. Isso faz com que os produtores desses itens sejam mais preocupados em proteger a cultura que os demais.
Essa preocupação culminou no desenvolvimento do que conhecemos como estufa ou casa de vegetação. Os nomes podem variar, no entanto, o princípio é o mesmo: cultivo protegido.
Estufa, cultivo protegido, estufa agrícola, casa de vegetação, os nomes podem ser diferentes, mas a ideia é a mesma: criar um ambiente protegido, onde as condições para desenvolvimento das plantas sejam ideais.
Através desse ambiente, deseja-se, portanto, ter alimentos com a mais alta qualidade. Além disso, a produtividade também sobe, especialmente nos alimentos que são muito sensíveis a oscilações de condições meteorológicas.
Existem diferentes níveis de cobertura utilizados no cultivo protegido. Os ambientes podem ser semi-abertos ou totalmente fechados.
A forma mais básica é apenas uma cobertura, com todos os lados abertos. Já os ambientes mais tecnificados possuem diversos recursos como: resfriamento, ventilação, aquecimento, aspersão de água, irrigação, abertura da cobertura, além dos sistemas de controle.
Dificuldades na lavoura
Muitos produtores sofrem com grandes perdas de produção por fatores climáticos, além de ataques de pestes e doenças.
Para diminuir a incidência desses fatores, especialmente em produtos alimentícios, alguns produtores optam por tentar administrar as variáveis.
Quando se realiza o cultivo aberto, o produto em campo está bastante vulnerável à qualquer variação do tempo.
Ataques de pestes e doenças são um problema constante, muitas vezes reduzido apenas com o uso de defensivos agrícolas.
A cana-de-açúcar é uma planta muito resistente, o que permite seu cultivo em ambiente aberto. Já o morango é extremamente sensível e exige cuidados muito mais constantes.
Com isso, o cultivo protegido é uma opção muito mais viável se tratando de morangos, não sendo tão desejável no caso da cana.
[elementor-template id=”12428″]Em localidades onde o clima é muito agressivo, dificultando o cultivo de alimentos, os ambientes protegidos são uma forma bastante útil de produção de diversos gêneros alimentícios.
Portanto, regiões áridas tendem a buscar por soluções do tipo com maior intensidade. Um desses casos é a região de Almería, na Espanha.
Incerteza do tempo
Um dos principais problemas das lavouras é a incerteza do tempo. No sul do Brasil, o inverno pode trazer geadas que devastam safras inteiras.
Essa é uma preocupação constante para os produtores daquela região, durante esse período crítico.
Ao mesmo tempo, as regiões áridas do país sofrem com a estiagem muito severa. Isso se aplica à áreas do nordeste e no sudeste, especialmente, na região do cerrado.
O exemplo de Almería
Almería, na Espanha, é um centro de referência para o mundo em cultivo protegido.
Essa área teve um rápido crescimento em quantidade de estufas, uma vez que essa tecnologia se popularizou na região, durante a década de 1980.
Desde então a área conhecida como Campo de Dalías tem grande importância econômica, além de ser uma importante fornecedora de alimento para toda a Europa.
Essa região é composta pelos municípios de Dalías, Berja e El Ejido, com outros povoados no entorno. Considerada a área com maior quantidade de estufas em todo o mundo, ocupando uma área de mais de 50.000 ha.
Com toda essa capacidade de produção, Almería se tornou um verdadeiro celeiro para a Europa.
Mas, é claro, não foi sempre assim. Almería, antes das estufas era uma região que sofria bastante com a oferta de alimentos, por mais irônico que isso possa parecer.
O clima árido, a alta salinidade do solo por causa da proximidade com o mar e a maresia constante tornam o cultivo de muitos gêneros alimentícios no mínimo complicado.
Por isso, a utilização de ambientes protegidos foi tão revolucionária para aquelas pessoas. Ao diminuir a influência dos fatores climáticos passou a ser possível a produção de hortícolas.
Efeito estufa
O famoso efeito estufa é responsável pelo fenômeno do aquecimento global. No entanto, esse efeito já é utilizado pelos seres humanos há muito tempo, com a intenção de gerar calor em um ambiente, a fim de torná-lo mais apropriado para o desenvolvimento de algumas plantas. Esse recurso é especialmente importante em países onde há inverno rigoroso.
Primeiramente, legumes e verduras não teriam nenhuma oferta durante o inverno sem as estufas. Entretanto, países onde o calor é muito intenso podem utilizar algo parecido com estufas, mas que realizam o processo inverso, de resfriamento.
Produtos com alto valor agregado
Produtos com alto valor de mercado, seja por serem culturas difíceis de se produzir, que apresentam baixa produtividade ou mesmo variedades especiais, tendem a serem cultivados em ambientes protegidos.
As culturas mais suscetíveis a ataques de pragas e doenças também são comumente guardadas em estufas ou casas de vegetação. Ficam assim reservadas e a possibilidade de serem prejudicadas é muito menor.
O mercado de frutas especiais – que ainda não é tão forte no Brasil –, faz grande uso de técnicas de cultivo protegido.
No Japão, por exemplo, os melões Yubari são leiloados aos pares, alcançando facilmente a cifra de U$ 100,00 a caixa.
Outra produção de grande valor e que também é realizada com cuidados especiais é a de flores.
Isso porque, além de serem produtos de alto valor agregado, o fator estético é extremamente importante para sua comercialização. Assim, o cultivo protegido é sistema de produção bastante relevante para esses vegetais.
Além disso, é altamente desejável que todas as flores atinjam maturidade no mesmo momento. No caso das flores é comum o uso até mesmo de hormônios que induzem o florescimento ou alguma função metabólica em determinado momento.
Essas substâncias são caras e seu uso deve ser bastante controlado. Por esse motivo o ambiente fechado pode auxiliar muito, uma vez que é mais fácil controlar as quantidades e eficiência do uso dessas substâncias nas plantas.
Estufa ou casa de vegetação?
Estufa, casa de vegetação ou até mesmo cultivo protegido são em grande parte sinônimos.
As estufas foram criadas para proporcionar um ambiente onde a temperatura interna seja mais alta que a externa. Tanto a necessidade quanto o conceito de estufa surgiu nos países com clima temperado, de inverno mais rigoroso.
Essa tecnologia possibilitou que algumas espécies exóticas fossem cultivadas em regiões onde sua adaptação seria impossível ou muito difícil.
A aristocracia de muitos países foi responsável pela construção de estufas para uso privado. Muitas vezes com a finalidade de funcionarem como recantos para lazer e atividades artísticas.
As estufas tiveram sua origem nos jardins de inverno. Estes são recantos tipicamente utilizados para a produção de gêneros não adaptados ao clima e que não sobreviveriam à situações de clima extremo.
Além disso, os jardins de inverno têm a importante função de trabalharem como áreas sociais essenciais. Estes são, portanto, redutos onde podem ser cultivadas plantas tanto para apreciação, permitindo o contato de pessoas que jamais veriam algumas variedades nas localidades onde vivem, como também servir de campo experimental para técnicas de cultivo, adaptação e melhoramento genético.
Quando usar cultivo protegido
O cultivo protegido é especialmente importante em 6 situações básicas:
- culturas muito sensíveis;
- produtos com alto valor agregado;
- regiões de clima rigoroso (muito frio ou árido);
- plantas exóticas não adaptadas ao clima local;
- testes e seleção genética;
- produção de mudas.
Importância histórica
Casas de vegetação são a mais nova versão, produtiva, das antigas estufas. Estas, ao se popularizarem na Holanda, tornaram-se bastante importantes para a produção de diversos gêneros alimentícios, sendo especializadas na produção de hortaliças, que são muito valorizadas em países frios.
A estufa tem a principal função de armazenar calor, por isso são mais comuns em regiões com inverno mais agressivo. Em regiões quentes busca-se trocar calor, ou seja, reduzir a temperatura interna. Nessas situações são mais comuns as casas de vegetação com sistemas de resfriamento, especialmente para as situações de picos de calor no verão.
Filoxera e as uvas
A praga filoxera-da-videira é responsável por grande euforia na Europa todas as vezes que faz uma aparição.
Desde o fim do século 19, quando apareceu pela primeira vez no velho mundo, a destruição causada por essa praga resulta em grandes prejuízos, sendo responsável por dizimar campos inteiros de produção de uvas, derrubando a produção europeia de vinhos.
A filoxera foi provavelmente levada por engano das Américas para a Europa, junto a plantas nativas americanas. Ao chegar no continente europeu encontrou facilidade em atacar as videiras e se proliferou.
Esses ataques dizimaram vastas regiões e, nesse surto inicial, toda a produção de uvas Carménère foi destruída, levando à extinção dessa variedade.
Para se ter uma ideia, em um dos surtos de filoxera, a Europa perdeu cerca de 40% de sua produção de uvas. Essa perda é bastante significativa, especialmente quando consideramos a importância econômica e cultural que o vinho possui em muitos países.
Caso da Uva Carménère
A uva originária da região de Médoc considerada extinta, foi redescoberta no Chile.
Provavelmente, as cepas chilenas foram levadas no meio de Merlots, por engano. No entanto, em meados da década de 1990, um especialista em uvas percebeu uma inconsistência na produção de Merlot. Ao averiguar esse problema, constatou a presença não proposital de Carménères em meio à produção de Merlot.
Depois de ter sido considerada extinta por mais de um século, apósum surto de Filoxera, a Carménère ressurgiu de forma inesperada, para abrilhantar prateleiras de supermercados ao redor do mundo.
Esse caso é um exemplo de como o cultivo de plantas exóticas pode ser essencial para a manutenção de variedades e espécies ao redor do mundo.
O cultivo “em cativeiro” pode ser considerado uma forma de conservação da genética e proteção de variedades.
Além disso, o cultivo protegido também é uma importante forma de evitar que toda a produção de determinada variedade ou gênero esteja completamente vulnerável ao ataque de uma nova praga, ou doença.
Tecnologia dentro de ambientes protegidos
Dentro das estufas, é possível utilizar as mais diversas tecnologias, auxiliando o controle das variáveis desejadas.
Não basta, obviamente, fechar a planta em um ambiente e esperar que dê tudo certo. É preciso, portanto, fazer o controle dos fenômenos que interferem no desenvolvimento das plantas.
Com o uso de sensores de umidade do ar, umidade de solo, vento, temperatura do ar, temperatura do solo, condutividade elétrica do solo, é possível ter muito mais informações sobre quais são as condições para o desenvolvimento das plantas.
Ao conhecer, portanto, as variáveis, é possível controlá-las, até certo ponto. Pode-se, por exemplo, utilizar métodos de resfriamento em situações de calor extremo. Em períodos de seca, a irrigação utilizada em um ambiente protegido é mais eficiente que em cultivo aberto.
Caso a umidade do ar seja um problema, é possível utilizar aspersores e diminuir esse gradiente de umidade. Se a umidade do solo estiver baixa, a irrigação localizada é eficiente. Pois essa não sofrerá tanta evaporação quanto em cultivo aberto, poupando assim mais água.
Dentro de um ambiente protegido, mesmo sendo menos suscetível, podem ocorrer pragas e doenças. No entanto essas podem ser rapidamente combatidas com uma quantidade inferior de químicos que em cultivo aberto. Isso ocorre uma vez que a deriva dentro de uma estufa pode ser considerada nula.
Uma estufa deixou de ser, portanto, apenas um local fechado, para se tornar um centro de tecnologia. É por esse motivo que a uniformização de alimentos tem sido cada vez mais comum.
Campo aberto e cultivo protegido
Apesar de parecer contra intuitivo, é muito importante para quem utiliza cultivo protegido, conhecer as variáveis ambientais.
Dependendo da previsão do tempo e do comportamento esperado, é possível já se programar em relação às alterações necessárias no ambiente protegido.
A casa de vegetação é um ambiente criado para alterar as condições atmosféricas, no entanto sua capacidade de controle está profundamente ligada ao tempo no local. Isso quer dizer que, a temperatura, por exemplo, pode ser aumentada ou diminuída em relação ao exterior, porém até certo ponto, dependendo da tecnologia utilizada.
Dessa forma, se o exterior apresentar 40 °C, não será possível manter o interior da casa de vegetação a 10ºC ou menos.
Essas variações muito grandes de temperatura, apesar de possíveis, representam um investimento muito alto. Por isso apenas em casos muito específicos é justificável.
Cultivo otimizado
Essa mesma lógica é aplicável à maioria das variáveis. A umidade do ar pode ser alterada até certo ponto, logicamente esse parâmetro depende também da temperatura.
Uma vez que elevadas temperaturas associadas à alta umidade passam a favorecer o aparecimento de algumas doenças, além da proliferação de fungos.
A ventilação também pode atuar até certo patamar. Senão ela passa a remover água demais do ambiente, influenciando a umidade do ar. No entanto ventilação de menos pode ser muito prejudicial, especialmente em um país como o Brasil.
Ao contrário dos países frios, onde as estufas são montadas para a mínima movimentação do ar, assim diminuindo a troca de calor pelo ar, no Brasil esse efeito pode ser muito ruim.
Isso porque, dias quentes podem tornar a temperatura interna de um ambiente protegido problemática, aumentando drasticamente a transpiração das plantas.
A soma de todos esses fatores é muito importante para que o produtor conheça as variações ambientais externas à casa de vegetação. Só assim é possível um planejamento adiantado das condições internas. Com esse planejamento o consumo de energia e insumos se torna ainda mais eficiente dentro do ambiente de cultivo.
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Ótimas dicas, gostei