O impacto da agenda ESG na agroindústria e a gestão de riscos 

As práticas ESG na agroindústria favorecem o aprimoramento dos processos corporativos e a sua relação com o meio ambiente, a sociedade e os colaboradores 

A gestão de riscos na agroindústria deve estar sempre em evolução, para que as decisões tenham o melhor impacto possível, tanto na área interna quanto externa da companhia.

Dentre as ferramentas a serem utilizadas neste sentido estão as práticas ESG, referentes à sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e governança das empresas.

Cada vez mais falado no setor corporativo, o ESG demanda ações equilibradas e constantes para existir na prática e atender aos anseios de consumidores e investidores.  

Assim, a agenda ESG na agroindústria tem um impacto amplo, sendo, por isso, uma importante ferramenta para a gestão de riscos.

Saiba mais sobre o assunto neste artigo!

A importância da agroindústria no Brasil

A agroindústria é o ambiente onde ocorrem as atividades de processamento e transformação de matérias-primas oriundas da agropecuária, silvicultura e aquicultura.

Dessa forma, a agroindústria possui um papel de grande importância: promover a maior integração do meio rural com a economia de mercado – desde o local ao global.

O desenvolvimento da agroindústria nacional está atrelado ao crescimento da agropecuária, cujo maior impulso teve início na década de 1970.

Foi quando o Brasil passou a desenvolver melhores técnicas de produção agrícola, adaptadas ao clima local e às condições de solo em diversas regiões do país, sobretudo no Cerrado. 

Com o domínio da chamada “agricultura tropical”, a agroindústria brasileira conseguiu expandir seus negócios e conquistar espaços importantes no cenário global.

Ao longo dos anos, esses processos têm sido cada vez mais aperfeiçoados por meio de pesquisas científicas, o que contribui para a melhoria dos produtos agroindustriais. 

Empresas públicas e privadas oferecem soluções tecnológicas e inovadoras de grande impacto, o que colabora para ofertar ao mercado alimentos de melhor qualidade.

Uma das principais inovações nesse período foi a biofortificação de alimentos, processo que aumenta o conteúdo nutricional de micronutrientes, com vitaminas e minerais específicos.

Atualmente, os processos agroindustriais estão cada vez mais modernos e sustentáveis, com tecnologias que reduzem o custo de produção e o uso de água e energia.

ESG na agroindústria - Dados do mercado de trabalho da agroindústria no Brasil (Fonte: Cepea)
Dados do mercado de trabalho da agroindústria no Brasil (Fonte: Cepea) – ESG na agroindústria

A agroindústria brasileira possui também grande importância socioeconômica, pois gera quase 4 milhões de empregos e contribui com o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil.

As mudanças atuais nos processos da agroindústria têm sido influenciadas por consumidores e investidores, que desejam alimentos mais saudáveis, de qualidade e de origem comprovada, sem relações com problemas socioambientais.

Acompanhe!

Consumidores e investidores: a dupla pressão na agroindústria

O setor agroindustrial, por muitas vezes ser o elo mais importante entre o meio rural e o mercado consumidor, acaba sendo cobrado por práticas ligadas ao ESG.

Essa cobrança é oriunda tanto dos consumidores quanto dos investidores das empresas.

ESG na agroindústria - A Importância da agenda ESG no agronegócio (Fonte: PwC)
ESG na agroindústria – A Importância da agenda ESG no agronegócio (Fonte: PwC)

Consumidores atentos a produtos mais sustentáveis e marcas mais responsáveis

Com o aumento do acesso à informação, devido ao avanço das tecnologias digitais, os consumidores estão mais exigentes com relação à origem do alimento que consomem.

As preocupações gerais são relativas à preservação dos biomas e a exploração dos recursos naturais, bem como aos direitos humanos – trabalho digno, salário justo, ausência de trabalho análogo à escravidão ou infantil.

De acordo com uma pesquisa do Institute For Business Value, da IBM, publicada em 2021, 84% dos consumidores indicaram que a sustentabilidade ambiental é, ao menos, moderadamente importante ao decidir a respeito de uma marca.

Além disso, a mesma pesquisa também levantou um ponto importante:

  • os consumidores estão levando em conta a sustentabilidade na hora de realizar decisões financeiras;
  • e metade deles acreditam que a exposição de uma empresa às mudanças climáticas pode afetar o seu risco financeiro.

Assim, 92% dessas pessoas declararam que esperam investir ou pressionar gestores de fundos a mudar suas opções de investimentos a partir de fatores ambientais e/ou de responsabilidade social.

Outra pesquisa, desta vez da PwC junto ao The Consumer Goods Forum, também de 2021, apontou que quase metade dos consumidores globais entrevistados levam em conta, de forma consciente, fatores relacionados à sustentabilidade na hora de realizar suas compras.

E que uma das fortes tendências para o varejo de alimentos e na indústria de consumo para os próximos anos é a relevância das marcas.

Os consumidores prestam cada vez mais atenção no que as marcas representam, pois, as pessoas têm buscado por marcas com propósito que reflitam os seus valores e crenças pessoais.

Inclusive, depois do fator “preço”, é a “confianças nas marcas” o mais relevante para muitos consumidores na hora da compra.

Investidores buscando novas formas de gerir riscos

os investidores têm feito maior pressão para que as agroindústrias ajudem a reduzir a emissão de GEEs (gases de efeito estufa) na atmosfera – gás carbônico (CO2), gás metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) etc.    

Assim, os chamados “investimentos verdes”, que favorecem a preservação das matas nativas e o sequestro de carbono na atmosfera, tem ganhado destaque no mercado.

E tudo indica que o Brasil terá um novo impulso neste sentido, com a recente criação do Decreto 11.075, de 19 de maio de 2022.

Ainda que o decreto não regule o mercado de crédito de carbono no Brasil – o que deve ocorrer com a aprovação do Projeto de Lei 528/21, em tramitação na Câmara dos Deputados – ele já sinaliza uma movimentação do mercado nesta direção.

Além disso, os investidores também devem começar a cobrar por indicadores que demonstrem que as empresas estão gerindo seus riscos reputacionais, morais, de imagem e socioambientais, além dos riscos financeiros.

Assim, por pressão dos investidores também, a tendência é que as agroindústrias fiquem cada vez mais criteriosas ao analisar tanto os seus processos internos, como fornecedores de matéria-prima e suas conformidades diante não apenas da lei, mas também frente a mecanismos de certificação, protocolos de sustentabilidade e boas práticas no que diz respeito à emissão de gases do efeito estufa, uso da água, proteção ambiental e etc.

Cenário global de investimentos sustentáveis

Para se ter uma ideia do quão expressivos são investimentos globais em sustentabilidade, de acordo com o relatório da GRIS 2020, houve um grande crescimento no volume financeiros de investimentos sustentáveis.

O valor desses investimentos chegou a US$ 35,3 trilhões apenas nos mercados que englobam Austrália, Canadá, Europa, Estados Unidos e Japão – o que representa quase 36% dos ativos financeiros sob gestão no mundo.

Nesse sentido, a tendência é de que as preocupações com a sustentabilidade ambiental e social e as práticas de governança caminhem juntas à sustentabilidade financeira das empresas, uma vez que atrai investidores, pode melhorar o acesso ao crédito e ainda colabora para a reputação da marca.

O que é ESG e qual a sua relação com a agroindústria?

O ESG na agroindústria envolve a prática das boas relações socioambientais desde o campo até ao consumidor final, e que deve ser passível de verificação por meio de processos transparentes.

ESG na agroindústria - A Importância da agenda ESG no agronegócio (Fonte: PwC)
ESG na agroindústria – A Importância da agenda ESG no agronegócio (Fonte: PwC)

Environmental (Ambiental)

Na área ambiental, é essencial as agroindústrias atuarem com uma produção agrícola que preze pelo uso racional dos recursos naturais (água e solo), preservação dos biomas, bem-estar animal, boas práticas agrícolas com manejos que colaborem para a redução das emissões de carbono (e até colaborem para o seu sequestro).

Além disso, diante do cenário de mudanças climáticas, a agricultura, por exemplo, pode tanto ser afetada por essas alterações – registrando perdas de produção, qualidade e eficiência – como também ser uma aliada no combate a essas alterações, por meio da agricultura de baixo carbono e a agricultura regenerativa.

O fato é que o clima traz riscos para as atividades agrícolas, e por isso, o uso de tecnologias de agricultura de precisão (aplicação de insumos em taxa variada) e ferramentas de inteligência climática (ou Climate-Smart Agriculture), são cada vez mais essenciais.

Leia também: ESG no Agronegócio: Conheça as Práticas que Fortalecem o Setor

Portanto, para as agroindústrias, entender como esses fatores se relacionam a sua matéria-prima é importante para que possam juntos, indústria e agropecuária, traçar estratégias no pilar “ambiental” da agenda ESG.

Social (Responsabilidade Social)

As práticas de responsabilidade social, por sua vez, estão vinculadas ao respeito e boas relações com as comunidades localizadas no entorno da área de atuação das empresas, bem como os seus fornecedores.

No caso das agroindústrias que compram sua matéria-prima de fornecedores que estão no agro, a responsabilidade social vai além de ter boas relações com as comunidades e o respeito às suas tradições, e engloba também o apoio e incentivo financeiro na melhoria das condições de saúde, educação, lazer e cultura e geração de emprego e renda.

Além disso, a responsabilidade social por parte das agroindústrias também compreende entender o contexto de seus fornecedores como, por exemplo, se possuem acesso: à condições dignas; à saúde; educação; saneamento básico; água potável; EPIs (equipamentos de proteção individual); e assistência técnica.

Para as agroindústrias, entender e monitorar fatores como esses pode ajudar a promover melhorias e também gerir riscos de reputação e imagem, por exemplo.

Governance (Governança Corporativa)

Na governança, é essencial o comprometimento dos gestores com a execução das ações acima relatadas e promovam a incorporação desses conceitos entre os colaboradores.

Além disso, as boas práticas de governança na agroindústria, principalmente ao tratar com fornecedores ligados a matérias-primas do agro, também dizem respeito:

  • ao monitoramento de operações agrícolas;
  • gestão de selos e certificações (e a conformidade de seus fornecedores neste processo);
  • a situação desses fornecedores frente ao CAR (Cadastro Ambiental Rural);
  • entre outras questões.

Vale destacar também que, empresas que se comprometeram publicamente com a Agenda 2020/2030 da ONU, para que sejam atingidos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, precisam de mecanismos para monitorar, reportar e verificar se sua cadeia de valor (não apenas no âmbito industrial) está alinhada com o cumprimento das metas.

Assim, a governança tem um papel fundamental de alinhar esses pontos e propor estratégias.

Como as agroindústrias podem acelerar a agenda ESG no campo?

As atividades agrícolas podem ser aceleradas de diversas formas a partir do incentivo das práticas ESG na agroindústria.

Com relação à redução das emissões de GEEs na atmosfera, por exemplo, o agronegócio tem papel de grande relevância, sobretudo para gerar créditos de carbono.

Confira algumas ações da agroindústria que podem acelerar o ESG no campo, a partir das parcerias entre agricultores e o setor agroindustrial ou de forma direta (produção própria):

  • Rastreabilidade na cadeia de valor e, com isso, maior transparência na gestão;
  • Incentivo ao uso sustentável dos recursos naturais por meio de técnicas de agricultura de precisão, tecnologias digitais e Climate-Smart Agriculture, por exemplo;
  • Incentivos na adoção de práticas de agricultura de baixo carbono, como o Sistema de Plantio Direto, o Sistema ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), práticas regenerativas entre outras;
  • Ações de combate ao desmatamento, ao reflorestamento, regeneração de áreas degradadas e que protejam e gerem aumento da biodiversidade;
  • Investimentos em inovação e digitalização;
  • Uso de energias renováveis (energia solar, biogás);
  • Monitoramento e combate à presença de trabalho infantil ou escravo no campo;

Além disso, ainda há um desafio de levar informação e recursos financeiros para que os produtores rurais possam transicionar para modelos que sejam mais produtivos, sustentáveis e resilientes ao clima, e é aqui que a agroindústria pode ter um papel essencial de prover tais recursos.

Por fim, essas ações, para alcançarem melhores resultados, precisam de um monitoramento constante e de transparência nas informações, de modo que os consumidores e investidores tenham acesso a elas.

E essa transparência é possível por meio da tecnologia.

Conclusão

Em resumo, a agenda ESG na agroindústria pode trazer mais transparência à sua cadeia de valor, além de colaborar para o aprimoramento de processos industriais e a gestão de riscos.

Mas é preciso ação! Com a crescente exigência do mercado, a presença dos princípios ESG na agroindústria precisa ser acompanhada de estratégias com metas anuais, monitoramento e constante aperfeiçoamento.

O avanço da implementação dessas ações favorece não só ao desenvolvimento da agroindústria, mas ao melhor relacionamento com investidores, consumidores, comunidades tradicionais e todo o meio ambiental.

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