Cultivares de soja tolerantes à seca
Para a cultura da soja, a água precisa ser bem distribuída durante todo o seu ciclo. As cultivares normalmente precisam receber cerca de 7 mm de água por dia. No entanto, isso nem sempre é ofertado, seja por falta de chuva ou por falta de água para a irrigação.
O tema da água na agropecuária é um assunto recorrente todos os anos. Ainda mais nos últimos períodos, em que o tempo muda a cada safra e não se pode programar, de uma safra para outra onde e quando as chuvas vão acontecer. Atualmente, a estiagem é o principal problema das lavouras, diminuindo a produtividade e o teor de proteína do grão.
Danos da estiagem em cultivares de soja
O estresse por quantidades insuficientes de água disponíveis para as plantas de soja provoca:
- Plantas pouco desenvolvidas e com baixa estatura.
- Folhas pequenas e entrenós curtos.
- Folíolos têm aparência murcha.
- Fechamento dos fólios para diminuir a área foliar e a evapotranspiração.
As altas temperaturas também são prejudiciais às plantas de soja. Mesmo em áreas irrigadas, podem causar um estresse hídrico de curto prazo em algumas horas do dia. As perdas de produtividade devido ao estresse hídrico chegaram a 14 milhões de toneladas na safra 2018/2019, em todo o Brasil.
A água representa 90% da massa total da planta de soja. E está presente em todos os processos bioquímicos e fisiológicos das plantas.
Como esses problemas com a seca são recorrentes, pesquisadores começaram a desenvolver novas cultivares, além de passarem a avaliar cultivares já utilizadas, observando a performance dessas plantas em relação a tolerância à seca.
Obtenção de cultivares tolerantes à seca
A característica de tolerância à seca não é algo fácil de se obter: exige interações entre fatores genéticos, morfológicos e fisiológicos da planta. E essas interações começam desde a semente.
Nenhuma cultivar é totalmente resistente à seca, mas há uma variação no comportamento das cultivares.
A qualidade fisiológica da semente é decisiva para a distinção dos genótipos de soja mais tolerantes à seca. As características observadas para potenciais cultivares tolerantes a estresse hídrico baseiam-se em observações do seu comportamento realizadas por meio de trabalhos de pesquisa laboratorial e a nível de lavoura.
As características morfológicas e fisiológicas que são avaliadas, para definir se uma nova cultivar é tolerante à seca são:
- Qualidade fisiológica das sementes.
Capacidade de germinação com pouca umidade.
- Crescimento das plantas.
Altura, massa seca.
- Produção por planta.
Número de vagens por planta, número de grãos por vagem.
- Estresse oxidativo.
O aumento do estresse oxidativo influencia em todos os aspectos fisiológicos das plantas.
- Níveis de fotossíntese.
Além dessas características, a seleção de plantas tolerantes à seca também pode ser feita por meio da avaliação dos genes das plantas. Essa busca tenta identificar características genéticas nas variedades que possam ser consideradas como características de tolerância à seca.
Estresse oxidativo: é a produção de radicais livres (oxigênios livres) que atuam nas células, atrapalhando seu funcionamento correto e sendo tóxico para as plantas.
Outro método que pode ser utilizado é pela introdução de genes de tolerância por meio da transgenia.
Características produtivas de cultivares tolerantes à seca
Quando comparadas a cultivares não tolerantes, as cultivares tolerantes à seca se comportam melhor em condição de estresse.
De acordo com publicação da Revista Cultivar, durante a safra 2015/2016, em algumas regiões do Mato Grosso, foram produzidas 60 sacas por hectare da soja tolerante à seca, contra 58 sacas de outras variedades. Em Goiás, a média foi de 66,58 sacas por hectare a partir de cultivares tolerantes, contra 64,01 das outras cultivares.
Além da maior produtividade, as características de fixação biológica de nitrogênio, taxas de fotossíntese e características morfológicas, não foram alteradas nas cultivares tolerantes à seca.
A influência da época de plantio na tolerância a seca
A época de plantio e o ciclo das plantas influenciam de duas formas na tolerância à seca:
- Plantar mais cedo, dentro da época recomendada, pode tornar a lavoura mais tolerante à seca. Nesse contexto a soja tende a crescer menos, desenvolvendo um sistema radicular mais profundo.
- O plantio mais tardio tende a deixar a lavoura mais sensível à seca por conta da menor profundidade das raízes e maior evapotranspiração em épocas de alatas temperaturas e dias mais longos. Cultivares de porte alto não são indicadas para essa época de plantio.
O ideal é ter uma lavoura com altura de plantas entre 60 a 80 cm. Cultivares maiores tendem a ser mais susceptíveis à seca.
É importante seguir a recomendação de plantio de cada cultivar que será utilizada na safra. O zoneamento climático das regiões também pode ajudar a definir a época correta do plantio.
Manejo da cultura e do solo para superar a seca
Em situações de estresse hídrico, não podemos contar apenas com cultivares tolerantes ou sistemas de irrigação como alternativa. Técnicas complementares de manejo da cultura da soja causam efeitos positivos na saúde das plantas, que sofrem menos em períodos de estiagem.
Atenção com o estande de plantas
Quando pensamos, por exemplo, em número de plantas por hectare ou estande, precisamos considerar que: quanto maior o estande, mais sensível à seca serão as plantas. Isso acontece porque a altura das plantas tende a aumentar nessas condições, causando mais competição por água. Por isso é preciso avaliar estrategicamente a população de plantas em relação as condições climáticas da região antes de realizar o plantio.
Manejo de plantas daninhas
O controle de plantas daninhas em lavouras de soja também é importante, e pelo mesmo motivo: plantas invasoras estão sempre competindo com a cultura por luz, água, nutrientes e espaço. Nos casos de estiagem ou veranicos, as plantas daninhas são mais agressivas e aumentam as perdas de produtividade devido à matocompetição.
Manejo do solo
O bom manejo do solo e utilização de sistemas conservacionistas também auxiliam muito na maior disponibilidade de água para as plantas. A utilização do sistema de plantio direto ajuda a manter a retenção de água no solo.
Com uma boa cobertura do solo, o sistema de plantio direto:
- Aumenta a infiltração de água no solo.
- Reduz o escorrimento superficial e evaporação da água.
- Aumenta a matéria orgânica, melhorando a capacidade de retenção de umidade no solo.
- Reduz a compactação do solo e o pé de grade, ajudando o sistema radicular a ficar mais bem distribuído e mais profundo;
O manejo do solo e o plantio direto, quando feitos corretamente, ajudam a disponibilizar mais água para as plantas. Conhecer as cultivares tolerantes a seca disponíveis, fazer uso das boas práticas agronômicas e conhecer as características da região onde se quer produzir soja, são de suma importância para uma lavoura saudável e produtiva mesmo em condições de estresse hídrico.