Como o agro tem respondido às pressões de mercado por uma agricultura mais sustentável?

agricultura sustentável

A agricultura sustentável é a opção mais viável para manter a produção agrícola, frente às mudanças climáticas, que são um risco à estabilidade financeira dos produtores

As mudanças climáticas viraram sinônimos de riscos à estabilidade financeira no agro.

Isso porque, além de problemas sociais e ambientais, elas provocam perdas de colheitas, bens e infraestruturas necessárias ao desenvolvimento das atividades econômicas.

Por isso, há uma preocupação do mercado em combater as mudanças climáticas e suas causas principais: a emissão de gases de efeito estufa, as queimadas e o desmatamento.

E uma das fortes aliadas para isso é a agricultura sustentável.

Por isso, ela tem sido incentivada, já que colabora para a produção de alimentos, sequestra carbono da atmosfera e mantém as florestas em pé.

A seguir, entenda como é que a agricultura pode ser cada vez mais sustentável e alinhada às expectativas de mercado frente a temas como ESG e muitos outros. Venha conferir!

Agricultura sustentável: o que é?

A sustentabilidade na agricultura é sinônimo do desenvolvimento de práticas agrícolas e de gestão da propriedade rural que geram boas produtividades e preservação ambiental.

Produzir de forma sustentável não quer dizer, necessariamente, que não se deve, por exemplo, usar fertilizantes ou adubos sintéticos e defensivos na lavoura.

No caso de tais produtos, é necessário o uso racional dos mesmos por meio da aplicação em taxa variada, por exemplo, somente nos locais onde há necessidade e na quantidade exata.  

Ao longo dos anos, diversas técnicas de agricultura sustentável, ou alternativa, vêm sendo aplicadas para promover a produção de alimentos com base no respeito ao meio ambiente.

Da mesma forma se dá com relação ao uso da água na irrigação.

A planta, para desenvolver todo o seu potencial, precisa de determinada quantidade de água por dia e no momento adequado, a fim de atender suas necessidades com exatidão e evitar o desperdício dos recursos hídricos.

Assim, uma agricultura sustentável passa também pela aplicação da irrigação de precisão, a qual, por meio de tecnologias, auxilia o produtor a irrigar somente o necessário.

Nesse contexto, o monitoramento do tempo, com estações meteorológicas automatizadas, também é de grande importância, sobretudo para prevenção e redução de riscos.

Além disso, a sustentabilidade deve abranger não só os sistemas agrícolas em si, mas também a pecuária, com a promoção do bem-estar animal e a preservação dos biomas.

Práticas que podem tornar a agricultura mais sustentável

As mudanças climáticas podem causar diversos problemas à agricultura: incêndios, altas temperaturas, chuvas intensas, desastres naturais, secas, ventos fortes, alteração na incidência de doenças e pragas, falta de água e perda da qualidade desta.

Pesquisadores apontam uma redução de até 17% na produtividade agrícola global até 2050.

Neste sentido, é preciso que cada vez mais as práticas de agricultura sustentável sejam desenvolvidas para que a atividade se torne mais resiliente ao clima e continue a produzir alimentos. Veja algumas delas abaixo.

Controle biológico

Esta técnica se constitui no controle das pragas agrícolas e insetos transmissores de doenças com o uso de inimigos naturais que podem ser: outros insetos benéficos; predadores; parasitóides; ou microorganismos (fungos, vírus e bactérias). 

Controle biológico (Fonte: Plantae, 2020)

Manejo Integrado de Pragas (MIP)

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é o uso de diferentes métodos de controle de forma conjunta com o objetivo de garantir o equilíbrio dos sistemas de produção.

O eixo central do MIP, é o monitoramento das pragas que ocorrem na cultura. 

Além disso, também é essencial o conhecimento sobre quais são as pragas primárias e secundárias, quais são os inimigos naturais destas pragas e que ocorrem na área de cultivo, quais produtos seletivos podem ser utilizados no controle, visando manter a população de insetos benéficos à cultura.

Assim, os métodos de controle praticados no MIP incluem os controles:

  • cultural;
  • genético;
  • biológico;
  • químico;
  • comportamental;
  • e varietal.
Agricultura Sustentável – métodos de manejo que fazem parte do MIP (Fonte: EMBRAPA)

Diante disso, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) tem desenvolvido métodos de MIP para diversas culturas. 

Agricultura de precisão

A agricultura de precisão é um modelo de gestão da propriedade rural que se utiliza de tecnologias para o manejo da lavoura, com baixo impacto ambiental.

Ela é baseada em dois conceitos: o de variabilidade espacial e o de variabilidade temporal.

A variabilidade espacial diz respeito a informações sobre um atributo da lavoura em determinado momento atual de uma área de produção.

Pode ser a variabilidade do estado nutricional do solo, da incidência de pragas e doenças ou de produtividade final. Com isso, se produz mapas de variabilidade e aplicações de insumos em taxa variada, o que gera economia de custos e eficiência nos manejos.

A variabilidade espacial, por sua vez, refere-se às condições da lavoura de uma safra para outra ou de um ano para outro, de modo que se obtém informações mais abrangentes sobre os manejos realizados em determinados períodos.

Principais etapas da agricultura de precisão. Após a 3ª etapa, o processo é reiniciado, pois além da variabilidade espacial (de local geográfico dentro da lavoura), existe uma variabilidade temporal (diferenças dentro do lavoura ao longo dos diferentes anos agrícolas). Assim, o processo é reiniciado para coleta de novos dados e readaptação dos mapas de aplicação. Com isso, é possível criar também o histórico da área, o que torna a tomada de decisão mais precisa.
(Fonte: DA SILVA; SILVA-MANN, 2020)

A agricultura de precisão se utiliza de diversas ferramentas em sua execução, que vão desde equipamentos manuais a drones e imagens de satélite em alta definição, as quais fornecem imagens do índice de vegetação das lavouras.

Com isso, é possível, por exemplo, realizar o sensoriamento remoto das áreas de produção e tomar decisões de manejo em menor tempo, com menos custo e de forma precisa. Desta forma, a agricultura de precisão colabora na execução de modelos de agricultura sustentável.

Sistema de Plantio Direto

No sistema de plantio direto, o objetivo é garantir que as características físicas, biológicas e químicas do solo sejam mantidas por meio do mínimo revolvimento dele.

Por isso, a semeadura ocorre no solo não revolvido (sem aração ou gradagem), sobre a palhada (restos vegetais) da cultura anterior.

Assim, é aberto um pequeno sulco ou cova com profundidades suficiente para garantir a adequada cobertura e contato com o solo.

Além disso, o plantio direto tem três pilares:

  • mínimo ou não revolvimento do solo;
  • manutenção da cobertura do solo (cobertura morta);
  • rotação de culturas – rotação, sucessão e/ou consórcio de outras culturas de espécies diferentes.

O uso do sistema de plantio direto, além de trazer vários benefícios ao solo e à lavoura, também colabora para uma agricultura de baixa emissão de carbono.

Isso porque, no sistema de plantio direto ocorre a redução das operações de aração e gradagens.

Normalmente, em sistemas convencionais, o uso excessivo dessas operações leva à desestruturação do solo, por meio do rompimento de seus agregados. Assim, o carbono presente nestes agregados passa a ser disponibilizado para microrganismos que vão consumi-lo librando CO2.

Além disso, a presença de palhada reduz o impacto das chuvas sobre o solo – pois, ele não fica exposto – e mantém a sua umidade.

Outro fator importante é que este sistema aumenta a presença da matéria orgânica no solo, o que favorece a reciclagem de nutrientes, aumentando a eficiência do uso de fertilizantes e corretivos no solo.

Sistemas agrícolas alternativos

De forma geral, essas técnicas envolvem a preservação do solo e o fortalecimento das relações biológicas do mesmo, além da fixação do nitrogênio e do sequestro de carbono.

Dentre as práticas de agricultura alternativa e sustentável, as mais conhecidas são a:

  • agricultura orgânica: que é focada na manutenção dos níveis de matéria orgânica do solo e não usa fertilizantes e adubos e defensivos químicos;
  • agrofloresta: considera a propriedade rural como uma unidade funcional maior, que é a natureza, proporcionando a integração entre agricultura e floresta;
  • agricultura biológica: é voltada para a autonomia do agricultor e a comercialização direta, tendo como objetivo principal a manutenção do equilíbrio ambiental;
  • agricultura regenerativa: reúne também técnicas das formas de agricultura acima, mas com foco na constante regeneração do solo e dos recursos naturais.

A agricultura regenerativa tem ganhado bastante atenção atualmente no contexto das práticas de agricultura sustentável.

Isso porque, ela visa criar um sistema que funcione em harmonia com a natureza para dar qualidade de vida a todos os seres, inclusive os trabalhadores das propriedades rurais.

Plano ABC, ILPF e os recursos para uma agricultura sustentável

O Brasil, de forma pioneira, lançou em 2010, o Plano ABC (agricultura de baixa emissão de carbono), uma das principais políticas públicas voltadas para o agronegócio no país.

O Plano ABC busca incentivar diversas práticas agrícolas que colaboram para reduzir as emissões de carbono na atmosfera ou para sequestrar o carbono.

Para isso, disponibiliza uma linha de crédito chamada Programa ABC, por meio da qual os agricultores podem obter crédito para investimento em práticas agrícolas sustentáveis.

No ano passado, 2021, o programa foi atualizado para o Plano ABC+, que no visa incrementar as metas e tecnologias do Plano ABC para mitigação das emissões de gases do efeito estufa no período de 2020 a 2030.

Outra iniciativa importante foi a criação do Sistema ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), que apresenta várias inovações que favorecem o desenvolvimento de uma pecuária sustentável.

Isso porque, o sistema envolve a produção de carne e leite na mesma área que a de grãos, fibras, madeira e energia, dentre outros.

A combinação depende de cada local de produção e pode ser lavoura-pecuária-floresta, lavoura-pecuária, silvipastoril ou agroflorestal.

O sistema tem como principais benefícios o uso mais eficiente dos recursos naturais, da mão de obra e dos insumos agrícolas.

A pressão do mercado por uma agricultura sustentável

Se por um lado os agricultores sentem no dia a dia efeitos das mudanças climáticas, com perdas de produção e produtividade, há também uma pressão por parte da sociedade por alimentos que sejam produzidos de maneira mais eficientes, por meio de uma agricultura sustentável.

Além disso, com as alterações no clima, o mercado financeiro e de capitais acaba sendo impactado pela perda de bens e infraestrutura necessária à realização dos seus negócios.

Em resumo, ninguém ganha com os efeitos das mudanças climáticas.

A origem delas, contudo, está na emissão de GEEs (gases do efeito estufa) na atmosfera.

Assim, se por um lado as indústrias de países mais desenvolvidos contribuem bastante para a emissão desses gases, o Brasil, por outro lado, tem um enorme potencial mitigador desses GEEs por conta das vastas áreas de floresta que ajudam a sequestrar carbono da atmosfera.

Nesse contexto, a agropecuária, sobretudo a brasileira, tem papel fundamental tanto na produção de alimentos quanto na preservação do meio ambiente.

Por isso, o incentivo às técnicas de agricultura sustentável têm sido tão buscadas levando ao crescimento dos investimentos por parte de grandes empresas.

ESG no agronegócio

Esse movimento influencia também a agricultura convencional a realizar práticas que estejam em sintonia com o ESG, sigla em inglês formada com as iniciais das palavras environmental (ambiental), social (responsabilidade social) e governance (governança).

Agricultura Sustentável e ESG: veja como critérios e modelos de negócios sustentáveis impactam o agro

O ESG no agronegócio, assim como no mercado financeiro, é o que tem direcionado a atuação de muitas empresas nos últimos anos.

Esse movimento tem sido muito influenciado também pelos consumidores, que estão vendo os impactos que os diversos setores econômicos e suas atividades causam na natureza, tendo como resultado as mudanças climáticas.

No agronegócio, não é diferente: há cada vez mais uma pressão para que o setor produza alimentos em maior quantidade, sem perder a qualidade e com respeito ao meio ambiente, de preferência com a preservação, ampliação e regeneração dos biomas.

Ou seja, mais do que nunca a sociedade e o mercado têm exigido do agronegócio uma agricultura mais sustentável do ponto de vista ambiental, econômico e social.

Conclusão

Em resumo, o desenvolvimento de uma agricultura sustentável é cada vez mais necessário, seja no Brasil ou em qualquer outro país, para que, mesmo diante das mudanças climáticas, seja possível a produção de alimentos.

Há décadas que cientistas vêm alertando para os efeitos das mudanças climáticas que, em 2021, ficaram bem visíveis no Brasil, com secas severas, geadas e excessos de chuvas que causaram perdas em culturas diversas e redução da produção.

Ao mesmo tempo, se faz necessário também que o mercado e suas empresas emissoras de GEEs façam sua parte na redução da emissão dos gases quando no investimento em práticas que favorecem para uma agricultura de baixo carbono e mais resiliente ao clima.